Por meio de um drama cativante e simples, diretora nos mostra um lado interessante do homem.
Ajudar faz bem, a solidariedade nos comove, nos faz sentir mais bem com nós mesmos. É bom ajudar o próximo, o que está perto de nós ou aquele distante dos nossos olhos. Porém, fazemos isso porque realmente queremos, ou apenas para nos sentirmos bem, como uma forma de retirar de nossa consciência um peso, já que temos uma boa condição de vida e muitos outros não teem nada. Se formos por essa viés, então, ao ajudarmos, estaríamos fazendo isso apenas a nós mesmos e o mundo que simplesmente se dane. É com essa temática que os personagens deste drama irão se confrontar constantemente.
Kate (Catherine Keener) é uma mulher com uma boa condição de vida. Junto com o marido, eles tem uma pequena loja de decoração e algumas relíquias. Eles compram de pessoas que perderam seus entes queridos esse móveis por um preço bem vagabundo e os vendem a preços exorbitantes. Na visão deles, todos saem ganhando, eles que irão vender esse material e lucrar com isso e os familiares, que se livrarão dos pertences dos seus pais, avós ou quem quer seja.
Esse casal tem um apartamento alugado e querem reformá-lo, mas para isso, eles precisam comprar o ap do lado, que pertence a uma senhora com um pé bem próximo da cova. Ou seja, o que eles tem a fazer é apenas esperar o ceifeiro bater a porta desta velha. Essa simpática senhora tem duas sobrinhas, Rebecca (Rebecca Hall), doce e delicada, ajuda a vó em tudo e é sempre destratada por ela e Mary (Amanda Peet), uma garota arrogante e egocêntrica. As duas passam a visitar avó constantemente e acabam por se relacionarem com os vizinhos. Kate e Alex (Oliver Platt) tem uma filha adolescente que está passando por uma fase de não aceitação de tudo o que tem. Aos olhos dela, ela não tem nada de interessante, enquanto todos os outros teem.
É com esse grupo de personagens que a diretora irá trabalhar o tema culpa. É em Kate que se sente culpada por ter uma vida boa, por se aproveitar de pessoas num momento tão delicados da vida delas e obter lucro com isso. Para se sentir mais aliviada, ela sempre está ajudar os outros, mas por mais que ajude, ainda se sente angustiada e culpada por tudo isso.
Rebecca trabalha numa clinica com mulheres que fazem tratamento de câncer. Apesar de ser cansativo, ela se sente bem, pois está ajudando essas paciente num momento de dor. Sua irmã, pelo contrário, tenta parecer forte, decidida, despreocupada com tudo, passa a ter um caso com Alexl e simplesmente finaliza esse relacionamento do nada, mas na verdade ela também está sofrendo e se culpando pelas coisas que aconteceram em sua vida e culpando a todos por isso.
É nesse rol de culpas e sobrecarregamento que o filme vai abordar como podemos ser hipócritas e insensíveis ao mesmo tempo. Essa culpa que carregamos por vários motivos, está muitas vezes ligada a nossa própria busca por uma felicidade utópica. Nascemos e crescemos achando que buscando uma carreira, uma família ou respeitando os bons costumes seria o necessário para que pudéssemos ser felizes e quando alcançamos isso e a felicidade não vem, nos sentimos meio desorientados, infelizes,culpados e com raiva do mundo ou apenas cansados.
Apesar do filme ser simples, ele é cativante. Caminha entre o drama e a comédia com uma delicadeza impressionante. As vezes tenta ser algo que não é, uma obra super alternativa com ares de cult, mas fica mesmo sendo um drama simples, bem feio, com um olhar interessante sobre o homem. O que há de mais interessante aí ainda é o elenco, composto por um grande time de atores. Kenner se sobressai, Rebecca impressiona e Amanda agrada. Pool é outro que faz um bom papel, apesar ser mal aproveitado no cinema, sempre obtendo papéis de coadjuvantes, ele sempre merece destaque.
A trilha sonora é gostosa, o instrumental que abre o filme é muito bom, o roteiro sempre se mantém até a última cena. Nada muito meloso, apenas correto, simples e sincero, em falar nisso, a cena final é de uma beleza impressionante, a troca de olhares entre as personagens de kenner e Rebecca conseguem expressar mais do que palavras ou duzias de orações.
Um filme básico, que alguns diriam que é bem “feito para mulheres”, já que se sobressai aqui a figuras das mulheres e há apenas dois homens na história, sendo esses dois frágeis e nada lembrando aquelas figuras masculinas. Mas não, há sim muita delicadeza em cada passo, em cada gesto e em cada ação, mas o foco aqui é um todo, não apenas essas mulheres que são independentes, mas todos, inclusive os homens também. Afinal, a culpa nos persegue de forma igual, claro, alguns se sentem mais pressionados por esse mal estar do que outros, mas ainda assim, todos nos sentimos assim em certos momentos de nossas vidas, simplesmente culpados por algo que não compreendemos.
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