Leonardo di Caprio e
Kate Winslet voltam a trabalhar juntos nesse drama sobre ilusões,
sonhos e decepções do aclamado diretor de “Beleza Americana”,
Sam Mendes .
April (Kate) e Frank
(Leonardo) são casados. Tem uma boa casa, uma linda casa na verdade,
tem nos seus vizinhos boas pessoas que sempre que podem passam o
tempo e finais de semana juntos. Ele trabalha numa empresa, o
emprego não gosta muito, mas paga suas contas, ela fica em casa, com
seus afazeres domésticos e cuidando dos filhos. Eles tem um casal de
criança que dão muito trabalho e desgaste para ela.
Os dois vivem,
basicamente vivem, mas por traz daquela boa aparência, daquela boa
vizinhança, do bom emprego e boa casa, esconde um engano e uma vida
que não desejavam. Desprezam seus vizinhos, se satisfazem em
perceber em como eles estão acima deles, seja no nível cultural ou
nas ambições da vida. Eles teem ambição e muitas. Mas aos poucos
vão percebendo que eles nada se diferem de todos, pessoas infelizes,
incapazes que pararam na vida e não tem nada que lhes possa
orgulhar. Essa verdade entra na vida deles como uma verdadeira morte
que os fragmenta e os derruba vagarosamente.
Esse é um intenso drama
que chega ao clímax somente ao final, e lá, bem lá nos
perguntamos: isso realmente está acontecendo? Com uma mescla de boa
fotografia, um roteiro afiado, ótimas atuações tanto dos seus
protagonistas., quanto do elenco de apoio e uma excelente trilha
sonora que se de destaca ao final, o diretor Mendes entrega um ótimo
filme.
O começo do longa já
nos diz muito do que veremos em seguida, uma peça de teatro, April
no palco, o público meio descontente, impacientes, esperando e
desejando que aquilo chegue ao fim o mais próximo possível. Após
os aplausos falsos, todos elogiam a peça, a história e o elenco. Na
volta para casa, depois de um vasto silêncio, sendo quebrados as
vezes por comentários nada eficazes, há uma discussão, uma forte
briga e um forte embate.
A partir desse momento, vemos a distância
desse casal crescer a cada dia, seja pelas trocas de ofensas, pelos
sorrisos falsos entre si ou pelo pouco diálogo verdadeiro entre
eles, no fundo eles não se conhecem. Ao mesmo tempo, também vemos a
forma como se conheceram, se aproximaram e iniciaram seu
relacionamento.
Outros personagens de
peso e importância trafegam pela história, como o casal de vizinhos
que são seus únicos amigos mais próximos e sempre vistos por April
e Frank com desprezo. A senhora Helen Givings (Kathy Bates), sempre
sorridente e com sua língua parecendo um veneno, falando e julgando
todos pelas costas. Seu filho John Givings (Michael Shannon), visto
por todos como um homem com sérios problemas mentais, mas que na
verdade possuí alguns pensamentos muito interessantes e que chegam a
ser os mesmos de April e Frank. A relação destes é a parte mais
instigante do drama, pois vemos como estes se entrosam com esse
personagem e como ao final, a verdade é dita por John e como ela cai
como um peso mordaz sobre este casal.
Sam Mendes aqui volta a
trabalhar o mesmo tema que em “Beleza Americana”, apenas mudando
o período da história. Há sonhos, o desejo de mudança, de pensar
que com apenas um novo começo em outro país ou cidade, todos os
problemas podem se resolver.
A ideia de que os problemas estão no
local, ao nosso derredor, nos outros, enfim em todos, menos em nós
mesmos, prevalece nesse drama. A relação deste casal está num
profundo declínio, ele a trai de forma natural, ela tem uma noite
com vizinho naturalmente também. Os dois voltam para casa e nada de
fato aconteceu. Esse jogo de aparências e de meia verdades é muito
bem trabalha pelo diretor, mas a presença desse personagem John,
dito como louco por alguns, é o ponto da veracidade, ele é único a
expressar o que realmente pensa ou sente, ao contrário que os outros
não.
O roteiro é afiado e
ganha força ao final na troca de acusações de ambos. Amor,
traição, desejo, tudo é despejado numa sequência que causa
espanto ao espectador. Todas as palavras e sentimentos guardados são
vivenciados e ditos com peso e voracidade. A trilha é belamente
usada e o elenco, ótimo.
Com um final belo e envolvente, mergulhado
numa excelente trilha sonora que nos causa ansiedade e perplexidade,
o diretor nos entrega uma drama consistente, com boas atuações num
roteiro bacana e eficaz.
Nenhum comentário:
Postar um comentário