domingo, 17 de junho de 2012

Foi Apenas um Sonho



Leonardo di Caprio e Kate Winslet voltam a trabalhar juntos nesse drama sobre ilusões, sonhos e decepções do aclamado diretor de “Beleza Americana”, Sam Mendes .

April (Kate) e Frank (Leonardo) são casados. Tem uma boa casa, uma linda casa na verdade, tem nos seus vizinhos boas pessoas que sempre que podem passam o tempo e finais de semana juntos. Ele trabalha numa empresa, o emprego não gosta muito, mas paga suas contas, ela fica em casa, com seus afazeres domésticos e cuidando dos filhos. Eles tem um casal de criança que dão muito trabalho e desgaste para ela.

Os dois vivem, basicamente vivem, mas por traz daquela boa aparência, daquela boa vizinhança, do bom emprego e boa casa, esconde um engano e uma vida que não desejavam. Desprezam seus vizinhos, se satisfazem em perceber em como eles estão acima deles, seja no nível cultural ou nas ambições da vida. Eles teem ambição e muitas. Mas aos poucos vão percebendo que eles nada se diferem de todos, pessoas infelizes, incapazes que pararam na vida e não tem nada que lhes possa orgulhar. Essa verdade entra na vida deles como uma verdadeira morte que os fragmenta e os derruba vagarosamente. 

 

Esse é um intenso drama que chega ao clímax somente ao final, e lá, bem lá nos perguntamos: isso realmente está acontecendo? Com uma mescla de boa fotografia, um roteiro afiado, ótimas atuações tanto dos seus protagonistas., quanto do elenco de apoio e uma excelente trilha sonora que se de destaca ao final, o diretor Mendes entrega um ótimo filme.

O começo do longa já nos diz muito do que veremos em seguida, uma peça de teatro, April no palco, o público meio descontente, impacientes, esperando e desejando que aquilo chegue ao fim o mais próximo possível. Após os aplausos falsos, todos elogiam a peça, a história e o elenco. Na volta para casa, depois de um vasto silêncio, sendo quebrados as vezes por comentários nada eficazes, há uma discussão, uma forte briga e um forte embate. 

A partir desse momento, vemos a distância desse casal crescer a cada dia, seja pelas trocas de ofensas, pelos sorrisos falsos entre si ou pelo pouco diálogo verdadeiro entre eles, no fundo eles não se conhecem. Ao mesmo tempo, também vemos a forma como se conheceram, se aproximaram e iniciaram seu relacionamento.

Outros personagens de peso e importância trafegam pela história, como o casal de vizinhos que são seus únicos amigos mais próximos e sempre vistos por April e Frank com desprezo. A senhora Helen Givings (Kathy Bates), sempre sorridente e com sua língua parecendo um veneno, falando e julgando todos pelas costas. Seu filho John Givings (Michael Shannon), visto por todos como um homem com sérios problemas mentais, mas que na verdade possuí alguns pensamentos muito interessantes e que chegam a ser os mesmos de April e Frank. A relação destes é a parte mais instigante do drama, pois vemos como estes se entrosam com esse personagem e como ao final, a verdade é dita por John e como ela cai como um peso mordaz sobre este casal. 

 

Sam Mendes aqui volta a trabalhar o mesmo tema que em “Beleza Americana”, apenas mudando o período da história. Há sonhos, o desejo de mudança, de pensar que com apenas um novo começo em outro país ou cidade, todos os problemas podem se resolver. 

A ideia de que os problemas estão no local, ao nosso derredor, nos outros, enfim em todos, menos em nós mesmos, prevalece nesse drama. A relação deste casal está num profundo declínio, ele a trai de forma natural, ela tem uma noite com vizinho naturalmente também. Os dois voltam para casa e nada de fato aconteceu. Esse jogo de aparências e de meia verdades é muito bem trabalha pelo diretor, mas a presença desse personagem John, dito como louco por alguns, é o ponto da veracidade, ele é único a expressar o que realmente pensa ou sente, ao contrário que os outros não.

O roteiro é afiado e ganha força ao final na troca de acusações de ambos. Amor, traição, desejo, tudo é despejado numa sequência que causa espanto ao espectador. Todas as palavras e sentimentos guardados são vivenciados e ditos com peso e voracidade. A trilha é belamente usada e o elenco, ótimo. 

Com um final belo e envolvente, mergulhado numa excelente trilha sonora que nos causa ansiedade e perplexidade, o diretor nos entrega uma drama consistente, com boas atuações num roteiro bacana e eficaz. 

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário