sexta-feira, 8 de junho de 2012

Mary e Max: uma amizade diferente


 
Essa é uma animação muito simples, porém muito cativante. Uma Nova York triste e melancólica, uma Austrália quente e vibrante e dois protagonistas que apesar de estarem tão distantes entre si, criarão e desenvolverão uma amizade tão grande e forte que irá ultrapassar as décadas.

Mary (Tony Collette) é uma garotinha inquieta, cheia de dúvidas e totalmente solitária. Seu pai trabalha constantemente e sua mãe vive bêbada com seus vinhos. Ela num dia, enquanto sua mãe rouba algumas coisinhas, resolveu abrir a lista telefônica dos Estados Unidos, e olhando para os nomes estranhos dos americanos, escolheu um dentre vários e escreveu uma carta para ele. Em sua opinião pensava que ele jamais ira responder, porém ele responde e assim nasce essa amizade. Improvável, mas é esse o termo que irá prevalecer durante todo o filme.

Enquanto isso nos Estados Unidos, conhecemos Max (Philip Seymour Hoffman), um sujeito grande, gordo e meio desajustado. Adora comer cachorro quente com chocolate. Mora sozinho e tem a companhia de uma senhora meio cega. Frequenta um psiquiatra que dá dicas nada interessantes à ele. Não tem amigos e não consegue chorar ou sorrir, no fundo não entende as pessoas, as considera muito complexa e esquisitas.

Num certo dia, recebe uma carta de uma garota da Austrália. Na carta dizia inúmeras coisas, ele ficou nervoso e entrou em pânico e fez o que sempre faz quando isso acontece, foi comer cachorro quente com chocolate. Após pensar e repensar, resolve responder a carta. Se apresenta, pede desculpa pela demora e espera ter notícias dela novamente. Assim como ela, ele também não tem amigos. A partir desse fato, os dois passam a se comunicar, via carta, por anos. O tempo passa, fatos acontecem, inúmeros fatos e muitas coisas mudam para sempre na vida desses dois personagens. Ele continua sua vida por aqui e ela aos poucos vai vivendo por lá, com suas dores, dificuldades e barreiras impostas pela vida. 

 

É com delicadeza mergulhado num tom melancólico e triste, repleto de cores escuras, acinzentadas e personagens nada belos que o diretor constrói essa narrativa sobre a amizade. Uma amizade verdadeira que nos faz ver os pequenos valores da vida e seus sentidos. Há em todo filme ótimas lições sobre a vida, questionamentos, existencialismo, tudo beirando a simplicidade, a inocência. O que começa como perguntas bobas como, “de ondem vem as crianças” chega a questões sobre como encarar traumas passados, sobre o que é a vida, ou sobre como e porquê as pessoas se comportam de forma tão arrogante, egocêntrica e sempre mentindo e escondendo seus sentimentos.

O roteiro é ótimo nesse sentido, pois ele trabalha com a simplicidade das palavras. Não há grandes metáforas, mas simples perguntas que guardam respostas muitas vezes inalcançáveis. Porque sofremos, quando não queremos sofrer, porque morremos, se na verdade o queremos é viver, o que é de importante na vida? Realizar toda aquela lista que temos quando criança ou já adultos é de fato importante? Se não é, o que é então? Porque a solidão nos persegue e nos faz sofrer?

As pessoas são complicadas, essa é afirmação de Max, ele tem Aspenger, uma doença que dificulta a socialização dele com outros, que o impede de entender o que as pessoas realmente sentem ao expressar uma palavra ou uma feição. Ele é internado, eletrocutado, estudado, visto e revisto, ele é diferente, mas quem não é? A normalidade aqui é tratada de forma bela, pois ele tem as respostas paras as suas perguntas, o sossego para os seus questionamentos. Se no começo do filme, ele tenta ser quem nem todos, com metas a cumprir, ao final, ele compreende o que tem de valor e é nisso que reside seu contentamento. Apesar da animação ser tao melancólica, ela nos causa um certo ar de conforto, prazer, uma certa alegria, é como se o desenho nos fizesse rever e rever tudo a nossa volta e a ver nessas cores frias e se vida, um certo calor pulsando firme e forte.

A trilha sonora desse longa é outro ponto belo, ela é simplesmente soberba, envolvente e encantadora. Em cada melodia e cada toque há dor, alegria, tristeza, alvoroço, contentamento, aceitação. A direção e roteiro são ótimos, um belo e fabuloso trabalho. Enfim, um filme, um desenho que dá gosto de ver e rever inúmeras vezes, tanto pela sua simplicidade, quanto pela sua história ou pelos seus personagens.




Um comentário:

  1. Olá, Ailton. Vi e gostei deste filme. A principio parece algo próprio para criança vê. No entanto, tem um teor bem mais sério. Um filme complexo, realista e existencial. Excelente texto... Um abraço...

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