Essa
é uma animação muito simples, porém muito cativante. Uma Nova
York triste e melancólica, uma Austrália quente e vibrante e dois
protagonistas que apesar de estarem tão distantes entre si, criarão
e desenvolverão uma amizade tão grande e forte que irá ultrapassar
as décadas.
Mary
(Tony Collette) é uma garotinha inquieta, cheia de dúvidas e
totalmente solitária. Seu pai trabalha constantemente e sua mãe
vive bêbada com seus vinhos. Ela num dia, enquanto sua mãe rouba
algumas coisinhas, resolveu abrir a lista telefônica dos Estados
Unidos, e olhando para os nomes estranhos dos americanos, escolheu um
dentre vários e escreveu uma carta para ele. Em sua opinião pensava
que ele jamais ira responder, porém ele responde e assim nasce essa
amizade. Improvável, mas é esse o termo que irá prevalecer durante
todo o filme.
Enquanto
isso nos Estados Unidos, conhecemos Max (Philip Seymour Hoffman), um
sujeito grande, gordo e meio desajustado. Adora comer cachorro quente
com chocolate. Mora sozinho e tem a companhia de uma senhora meio
cega. Frequenta um psiquiatra que dá dicas nada interessantes à
ele. Não tem amigos e não consegue chorar ou sorrir, no fundo não
entende as pessoas, as considera muito complexa e esquisitas.
Num
certo dia, recebe uma carta de uma garota da Austrália. Na carta
dizia inúmeras coisas, ele ficou nervoso e entrou em pânico e fez o
que sempre faz quando isso acontece, foi comer cachorro quente com
chocolate. Após pensar e repensar, resolve responder a carta. Se
apresenta, pede desculpa pela demora e espera ter notícias dela
novamente. Assim como ela, ele também não tem amigos. A partir
desse fato, os dois passam a se comunicar, via carta, por anos. O
tempo passa, fatos acontecem, inúmeros fatos e muitas coisas mudam
para sempre na vida desses dois personagens. Ele continua sua vida
por aqui e ela aos poucos vai vivendo por lá, com suas dores,
dificuldades e barreiras impostas pela vida.
É
com delicadeza mergulhado num tom melancólico e triste, repleto de
cores escuras, acinzentadas e personagens nada belos que o diretor
constrói essa narrativa sobre a amizade. Uma amizade verdadeira que
nos faz ver os pequenos valores da vida e seus sentidos. Há em todo
filme ótimas lições sobre a vida, questionamentos,
existencialismo, tudo beirando a simplicidade, a inocência. O que
começa como perguntas bobas como, “de ondem vem as crianças”
chega a questões sobre como encarar traumas passados, sobre o que é
a vida, ou sobre como e porquê as pessoas se comportam de forma tão
arrogante, egocêntrica e sempre mentindo e escondendo seus
sentimentos.
O
roteiro é ótimo nesse sentido, pois ele trabalha com a simplicidade
das palavras. Não há grandes metáforas, mas simples perguntas que
guardam respostas muitas vezes inalcançáveis. Porque sofremos,
quando não queremos sofrer, porque morremos, se na verdade o
queremos é viver, o que é de importante na vida? Realizar toda
aquela lista que temos quando criança ou já adultos é de fato
importante? Se não é, o que é então? Porque a solidão nos
persegue e nos faz sofrer?
As
pessoas são complicadas, essa é afirmação de Max, ele tem
Aspenger, uma doença que dificulta a socialização dele com outros,
que o impede de entender o que as pessoas realmente sentem ao
expressar uma palavra ou uma feição. Ele é internado,
eletrocutado, estudado, visto e revisto, ele é diferente, mas quem
não é? A normalidade aqui é tratada de forma bela, pois ele tem as
respostas paras as suas perguntas, o sossego para os seus
questionamentos. Se no começo do filme, ele tenta ser quem nem
todos, com metas a cumprir, ao final, ele compreende o que tem de
valor e é nisso que reside seu contentamento. Apesar da animação
ser tao melancólica, ela nos causa um certo ar de conforto, prazer,
uma certa alegria, é como se o desenho nos fizesse rever e rever
tudo a nossa volta e a ver nessas cores frias e se vida, um certo
calor pulsando firme e forte.
A
trilha sonora desse longa é outro ponto belo, ela é simplesmente
soberba, envolvente e encantadora. Em cada melodia e cada toque há
dor, alegria, tristeza, alvoroço, contentamento, aceitação. A
direção e roteiro são ótimos, um belo e fabuloso trabalho. Enfim,
um filme, um desenho que dá gosto de ver e rever inúmeras vezes,
tanto pela sua simplicidade, quanto pela sua história ou pelos seus
personagens.
Olá, Ailton. Vi e gostei deste filme. A principio parece algo próprio para criança vê. No entanto, tem um teor bem mais sério. Um filme complexo, realista e existencial. Excelente texto... Um abraço...
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