Acredite
no Impossível
Criação
de J. J. Abrams, essa série mergulha profundo num mundo desconhecido, onde toda
verdade é apenas um ponto de perspectiva e toda realidade não é apenas uma mera
realidade.
Após
Arquivo-X, o mundo das séries nunca mais foi o mesmo. Se antes deste seriado, o
universo destas estava apenas moldado por comédias simples e escrachadas, com
duração de apenas meia hora e sem ter uma trama que interligasse os episódios,
depois de Arquivo-X, as estruturas destes seriados mudaram drasticamente.
Com
uma trama baseada nas mais profundas teorias de conspiração, envolvendo
mitologias, espíritos, ocultismo e toda sorte de crenças que estão longe da
realidade, Arquivo-X abriu um caminho para as mais diversas séries ganharem
vida. Exemplos não faltam: Lost, Angel, True Blood, Supernatural, Guerra dos
Tronos, Penny Dreadful.
Episódios
densos, calcados no suspense, com personagens emblemáticos e contraditórios,
com segredos e verdades. Com cerca de duração de uma hora cada episódio, este
seriado durou nove anos. Apesar de ter um final que não foi o esperado, marcou
para sempre os rumos dos seriados. Entretanto, nenhuma seria de ficção
conseguiu ocupar o lugar deixado por esta série.
Fringe
nasce com essa premissa, uma trama de ficção calcada em episódio fechados
(começo, meio e fim) e que ao final, estão interligados com uma história maior
que rege toda a temporada.
Criação
de J. J. Abrams, o mesmo criador do
seriado odiado e amado aos extremos, Lost, Fringe caminha entre o drama,
suspense e ficção e nos entrega um seriado profundo, complexo, com personagens
marcantes, emblemáticos e que caminham numa linha tênue entre o bem e o mal,
movido por desejo e amor.
Não
há vilões de fato nesta história, não há heróis, há homens e mulheres tentando
se manterem vivos. Apesar de se ter toda uma ficção que rege a série, um tema simples
interliga todos os episódios que é o sentimento de redenção. Um seriado
extremamente humano estruturado na mais pura ficção.
A
sinopse num começo é simples. Após um acidente de avião onde toda tripulação
foi achada morte, os agentes Olivia (Anna Torv) e John (Mark Valley) são
encarregados de investigar o caso. Quanto mais investigam, mais se deparam com
um mundo desconhecido.
Olivia
descobre que há mais casos que nem estes, sem uma explicação de fato, que
seguem certo padrão, dando a entender que estão interligados por algo maior.
Então esta agente se depara com uma nova recente subdivisão criada pelo FBI
chamada Fringe.
Essa
nova organização tem como meta tentar solucionar casos não explicados pela
medicina ou pela investigação comum. Quando seu parceiro é contaminado pelo
vírus que matou a todos a bordo no avião, Olivia vai precisar da ajuda de um
médico especialista neste assunto, o cientista Dr. Walter Bishop (John Noble).
Ele está internado há vinte anos num hospital psiquiátrico. Seu único contato
com o mundo externo é seu filho, Peter (Joshua Jackson).
Com
a ajuda de Peter e Bishop, Olivia então parte para desvendar os casos mais
estranhos, as mortes mais bizarras e as explicações mais fora do padrão da
racionalidade humana. Durante as investigações, o departamento Fringe irá se
deparar constantemente com a empresa Massive Dynamic, dirigida por Nina (Blair
Brown), antiga amiga de Bishop. Neste sentindo, eles nunca sabem se Nina está
de fato os ajudando ou apenas protegendo os interesses particulares da empresa.
No
primeiro ano, a série começou bem, porém perdeu em audiência e qualidade.
Entretanto após sua segunda temporada, todo roteiro foi reestruturado e
percebeu-se um novo clima na série. O seriado finalmente achou seu ponto e seu
caminho.
Na
primeira temporada um vilão é revelado, no segundo, percebe-se que o problema
que cerca a todos os personagens é muito mais emblemático. Na terceira
temporada, universos se cruzam, neste momento a série alcança seu ápice. No
quarto ano, toda a história é refeita e sentimos um recomeço, entretanto é um
recomeço marcado por feridas do passado. É estranho e diferente, os roteiristas
ousam com a trama e entregam um ano cheio de mudanças que conseguem dar conta
de toda história. E na quinta temporada, os verdadeiros vilões são revelados e
a série consegue encaixar num arco fechado todos os fatos acontecidos desde a
primeira temporada ate a última, mostrando que todas as cinco temporadas
caminharam de acordo com a trama original.
Alguns
episódios são verdadeiramente belos, outros comoventes e todos os elementos
cinematográficos apenas ajudam da melhor forma possível na construção deste
seriado. Temas como amor, perdão, desejo, culpa, frieza e raiva são trabalhados
na história. Conseguimos nos identificar com seus protagonistas e com cada
personagem que cruza o caminho destes.
Um
ponto que o seriado sempre trabalha é que toda ação gera uma reação e toda
escolha gera uma série de consequências que não podemos controlar, apenas
aceitar da melhor forma possível. Algumas verdades ou fatos não compreendemos
de inicio, mas somente quando o tempo que nos cerca e nos move passa, é que
percebemos como chegamos onde chegamos e sofremos o que sofremos. É como se
tudo tivesse um motivo de fato e que nada fosse pelo mero acaso.
Predestinação,
talvez destino, talvez apenas a vida. Assim Fringe move seus personagens.
Sentimentos tão simples e tão complexos move a todos e ao final, o que
prevalece é a tentativa de um personagem de sentir-se livre do peso das suas
escolhas, livre dos fantasmas do seu passado. Culpabilidade, perdão e redenção.
Sentimentos que nos cercam e nos moldam, também moldam a estes personagens.
O
drama está no cerne da série e são os dramas de todos os personagens que vemos
no decorrer das temporadas. É interessante ver como a complexidade da série
ganha força, folego e vida com o passar dos episódios.
Da
terceira temporada em diante, todos os casos conseguem trazer para o centro da
investigação algo que está relacionado ao drama que rege Fringe. É como se a
cada episódio, fosse revelado qual é o grande mal que nos cerca, mas ainda
estamos imaturos para percebê-lo.
Alguns
episódios ganham destaque, seja perca sua carga emotiva como pela sua execução.
Perdão, redenção, acolhimento, aceitar a si mesmo, em suas mais complexas
limitações, são estes os temas que Fringe trabalha e foca.
O
mundo gira e nós somos marcados pelas nossas escolhas. Universos se cruzam,
pessoas morrem e o motivo que está interligado a tudo isso é tão simples que
parece ser bobo. Mas assim é a vida, quando vemos de perto, toda simplicidade
ganha complexidade e notamos que nada que parece ser, de fato é.
A
verdade é um ponto de perspectiva.