quarta-feira, 8 de abril de 2015

Sobre Homens, Mulheres e Filhos



Sobre homens, mulheres e filhos. Sobre amores, dores e superação. Sobre erros e acertos. Sobre confiança e proteção. Jason Reitman em seu mais novo filme traz uma trama envolta de vários personagens onde todos se cruzam entre si, mergulhados em suas vidas, perdidos e conectados a diversas redes sociais. Dialogam com o mundo que os cerca, mas se calam com as pessoas mais próximas às suas vidas. Um longa tocante e terno que consegue exprimir toda dramaticidade, complexidade e contrariedade existente na sociedade no momento.

Don Truby (Adam Sandler) e Rachel Truby (Rosemarie DeWitt) são casados há anos. Perderam entre si aquela paixão e calor na cama. vivem, se falam e transam meio que obrigatoriamente, numa relação quase robótica e agendada. Ele passa seus dias no quarto se masturbando vendo vídeos pornôs, ela procurando amantes pela internet.

Eles são pai de Chris (Traves Topi), um adolescente que joga no principal time de futebol da escola. Na flor da adolescência, está descobrindo seu corpo e assim como o pai, se perde nos vídeos eróticos da vida. Ele tem uma atração e um desejo por Hannah Clint (Olivia Crocicchia) (garota cantora popular que conseguiu a fama por meio de sua “beleza” e se perdeu em sua “maturidade”?), uma adolescente que se sente atraente, acima da sua idade e acha que sua beleza a levará a conquistar o que deseja nessa vida. Gosta de seduzir Chris e mostra-se sempre para suas amigas mais como uma mulher do que uma adolescente.

A mãe de Hannah, Joan (Judy Greer), tem um comportamento com a filha mais de amiga do que de mãe.  Sempre permissível, deseja com que a filha tente alcançar o que tanto deseja, ser uma estrela do cinema. E para isso, sempre estará tirando fotos de sua filha, fotos que em certos momentos chegam a serem fortes e ousadas. Na opinião dela, ela dando esse apoio e suporte para a filha, a ajudará em sua vida.



Joan num encontro sobre como criar os filhos, conheceu um homem, Kent (Dean Norris). Os dois se interessam um pelo outro e iniciam um relacionamento. Ele é calado e desde que sua esposa o abandonara não se envolveu com mais ninguém. Não sente desejo, vontade ou prazer. Apenas vive calado, amargurado, em silêncio. Nesse novo relacionamento, ele vê possibilidades e sente-se vivo como antes. 

Ele tem um filho, Tim (Ansel Elgort), que assim como ele, desde que sua mãe partiu, se fechou em seu mundo. Saiu do time de futebol, fato esse que ainda sempre é criticado por todos do colégio, inclusive pelos professores. Perdeu amigos e conhecidos e encontrou nos jogos online em rede um conforto e abrigo.

Ele se interessa por Brandy (Kaitlyn Dever), uma garota que assim como ele é reservada e calada. Não tem amigos com quem possa conversar. Os dois se olham, conversam e iniciam um relacionamento calmo, lento e comovente. Ela também possui seus problemas, sua mãe no caso, Patricia Beltmeyer (Jennifer Garner), uma mãe extremamente protetora e controladora. 

Ainda por fora há Alisson (Elena Kampouris), uma adolescente que não come, é apaixonada por um garoto do colégio mais velho e acha que alcançando um certo padrão de beleza vai conquista-lo.


Esse é o mosaico construído por Reitman em seu mais novo filme e no centro da trama estão ainda as relações sociais. Há todo momento vemos telas e conversas, elas representam as inúmeras conversas que todos os personagens têm em seus aparelhos e computadores. Todos mergulhados em redes sociais, mas que permanecem calados em suas vidas. Chega a ser engraçado algumas cenas em que três amigas conversam entre si enquanto duas delas mantém uma conversa em off por meio do celular debochando da amiga.

Nesse drama, o que o diretor faz é uma abordagem dessa sociedade tão contraditória entre si. Ao mesmo tempo em que temos contatos, mantemos amizades e conversamos com pessoas que estão tão distante de nós, não conversamos ou dialogamos mais com pessoas próximas de nós ou mais importantes. Todos conversam com todos, menos com as pessoas que realmente precisam conversar ou que precisam manter um elo de relação. Pais e filhos, maridos e esposas, amigos.

Em todos os relacionamentos entre estes personagens, o que se tem é um silêncio estarrecedor. O único casal que mais possui diálogo entre si, Tim e Brandy, são considerados os mais estranhos do colégio. Torna-se engraçado, os mais sociáveis, que não se perdem em redes e vivenciam suas vidas com mais intensidade e realidade, são colocados no filme como os mais estranhos. 

É interessante notar também o pôster do longa em que a figura de todos os personagens se perdem no espaço e não há como de fato visualizá-los, entretanto os personagens de deste dois jovens são mostrados ao centro, mais nítidos, mais claro, com mais cor, mais vida e mais intimidade e relação.



Seguindo a mesma linha de Crash, “Homens, mulheres e filhos” constrói seu drama em cima de vários personagens. Vários arcos em que nunca há um protagonista de fato. Neste drama todas as tramas se entrelaçam e o mais interessante, todas se destacam em suas particularidades. No começo, somos apresentados a todos os personagens, seus dramas e seus medos. Aos poucos vemos suas histórias e seus problemas ganharem forma ou sendo percebidos por eles mesmos e ao final, cada um vai tendo seu desfecho. Um fim marcado pela ternura, dor, maturidade e redenção.

Uma voz une a todos e essa voz é a de Emma Thompson. Ela retrata a vida de todos e os intercala com um fato, a grandeza do Universo. Quanto mais percebemos como o universo é infinito, mais percebemos que nossos problemas são pequenos diante da grandeza da vida. Entretanto, quanto mais vemos nosso problema, mais o achamos imensurável. 

Perceber a vida, a sua finitude, a sua grandeza e compreender que fazemos parte de um todo, nos ajuda a perceber o quão nossos problemas são pequenos diante de nós. Estes já podem serem suportados e aceitos. Os personagens deste drama caminham para essa verdade, para essa aceitação, para esse conflito e ao final, se deparam com suas dores e suas verdades.

Nesse sentindo, “Sobre Homens Mulheres e filhos” aborda um tema caro a sociedade, sua solidão e carência e como nos afastamos de quem devíamos estar próximos e como as relações reais vem perdendo força mediante as redes sociais que tem como objetivo fundamental tornar as relações mais vivas. Por fora, o longa ainda toca em temas como aceitação, dor, verdades e traumas do passado com muita delicadeza e ternura, nunca aprofundamento um tema em especifico, entretanto nunca o tratando com superficialidade.




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