quinta-feira, 16 de abril de 2015

Fringe: Acredite no Impossível



Acredite no Impossível

Criação de J. J. Abrams, essa série mergulha profundo num mundo desconhecido, onde toda verdade é apenas um ponto de perspectiva e toda realidade não é apenas uma mera realidade.

Após Arquivo-X, o mundo das séries nunca mais foi o mesmo. Se antes deste seriado, o universo destas estava apenas moldado por comédias simples e escrachadas, com duração de apenas meia hora e sem ter uma trama que interligasse os episódios, depois de Arquivo-X, as estruturas destes seriados mudaram drasticamente.

Com uma trama baseada nas mais profundas teorias de conspiração, envolvendo mitologias, espíritos, ocultismo e toda sorte de crenças que estão longe da realidade, Arquivo-X abriu um caminho para as mais diversas séries ganharem vida. Exemplos não faltam: Lost, Angel, True Blood, Supernatural, Guerra dos Tronos, Penny Dreadful.

Episódios densos, calcados no suspense, com personagens emblemáticos e contraditórios, com segredos e verdades. Com cerca de duração de uma hora cada episódio, este seriado durou nove anos. Apesar de ter um final que não foi o esperado, marcou para sempre os rumos dos seriados. Entretanto, nenhuma seria de ficção conseguiu ocupar o lugar deixado por esta série.


Fringe nasce com essa premissa, uma trama de ficção calcada em episódio fechados (começo, meio e fim) e que ao final, estão interligados com uma história maior que rege toda a temporada.
Criação de J. J.  Abrams, o mesmo criador do seriado odiado e amado aos extremos, Lost, Fringe caminha entre o drama, suspense e ficção e nos entrega um seriado profundo, complexo, com personagens marcantes, emblemáticos e que caminham numa linha tênue entre o bem e o mal, movido por desejo e amor.

Não há vilões de fato nesta história, não há heróis, há homens e mulheres tentando se manterem vivos. Apesar de se ter toda uma ficção que rege a série, um tema simples interliga todos os episódios que é o sentimento de redenção. Um seriado extremamente humano estruturado na mais pura ficção.

A sinopse num começo é simples. Após um acidente de avião onde toda tripulação foi achada morte, os agentes Olivia (Anna Torv) e John (Mark Valley) são encarregados de investigar o caso. Quanto mais investigam, mais se deparam com um mundo desconhecido.

Olivia descobre que há mais casos que nem estes, sem uma explicação de fato, que seguem certo padrão, dando a entender que estão interligados por algo maior. Então esta agente se depara com uma nova recente subdivisão criada pelo FBI chamada Fringe.

Essa nova organização tem como meta tentar solucionar casos não explicados pela medicina ou pela investigação comum. Quando seu parceiro é contaminado pelo vírus que matou a todos a bordo no avião, Olivia vai precisar da ajuda de um médico especialista neste assunto, o cientista Dr. Walter Bishop (John Noble). Ele está internado há vinte anos num hospital psiquiátrico. Seu único contato com o mundo externo é seu filho, Peter (Joshua Jackson).

Com a ajuda de Peter e Bishop, Olivia então parte para desvendar os casos mais estranhos, as mortes mais bizarras e as explicações mais fora do padrão da racionalidade humana. Durante as investigações, o departamento Fringe irá se deparar constantemente com a empresa Massive Dynamic, dirigida por Nina (Blair Brown), antiga amiga de Bishop. Neste sentindo, eles nunca sabem se Nina está de fato os ajudando ou apenas protegendo os interesses particulares da empresa.



No primeiro ano, a série começou bem, porém perdeu em audiência e qualidade. Entretanto após sua segunda temporada, todo roteiro foi reestruturado e percebeu-se um novo clima na série. O seriado finalmente achou seu ponto e seu caminho.

Na primeira temporada um vilão é revelado, no segundo, percebe-se que o problema que cerca a todos os personagens é muito mais emblemático. Na terceira temporada, universos se cruzam, neste momento a série alcança seu ápice. No quarto ano, toda a história é refeita e sentimos um recomeço, entretanto é um recomeço marcado por feridas do passado. É estranho e diferente, os roteiristas ousam com a trama e entregam um ano cheio de mudanças que conseguem dar conta de toda história. E na quinta temporada, os verdadeiros vilões são revelados e a série consegue encaixar num arco fechado todos os fatos acontecidos desde a primeira temporada ate a última, mostrando que todas as cinco temporadas caminharam de acordo com a trama original.

Alguns episódios são verdadeiramente belos, outros comoventes e todos os elementos cinematográficos apenas ajudam da melhor forma possível na construção deste seriado. Temas como amor, perdão, desejo, culpa, frieza e raiva são trabalhados na história. Conseguimos nos identificar com seus protagonistas e com cada personagem que cruza o caminho destes.

Um ponto que o seriado sempre trabalha é que toda ação gera uma reação e toda escolha gera uma série de consequências que não podemos controlar, apenas aceitar da melhor forma possível. Algumas verdades ou fatos não compreendemos de inicio, mas somente quando o tempo que nos cerca e nos move passa, é que percebemos como chegamos onde chegamos e sofremos o que sofremos. É como se tudo tivesse um motivo de fato e que nada fosse pelo mero acaso.



Predestinação, talvez destino, talvez apenas a vida. Assim Fringe move seus personagens. Sentimentos tão simples e tão complexos move a todos e ao final, o que prevalece é a tentativa de um personagem de sentir-se livre do peso das suas escolhas, livre dos fantasmas do seu passado. Culpabilidade, perdão e redenção. Sentimentos que nos cercam e nos moldam, também moldam a estes personagens.

O drama está no cerne da série e são os dramas de todos os personagens que vemos no decorrer das temporadas. É interessante ver como a complexidade da série ganha força, folego e vida com o passar dos episódios.

Da terceira temporada em diante, todos os casos conseguem trazer para o centro da investigação algo que está relacionado ao drama que rege Fringe. É como se a cada episódio, fosse revelado qual é o grande mal que nos cerca, mas ainda estamos imaturos para percebê-lo.

Alguns episódios ganham destaque, seja perca sua carga emotiva como pela sua execução. Perdão, redenção, acolhimento, aceitar a si mesmo, em suas mais complexas limitações, são estes os temas que Fringe trabalha e foca.

O mundo gira e nós somos marcados pelas nossas escolhas. Universos se cruzam, pessoas morrem e o motivo que está interligado a tudo isso é tão simples que parece ser bobo. Mas assim é a vida, quando vemos de perto, toda simplicidade ganha complexidade e notamos que nada que parece ser, de fato é.


A verdade é um ponto de perspectiva. 



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