sábado, 11 de abril de 2015

True Blood - Temporada Final



Quando cessa o temporal, o sol volta a brilhar.

Em sua sétima e última temporada, True Blood traz para o centro da trama uma história simples, calcada em seus personagens, dramas e temores. Não, não há grandes batalhas ou vilões que vão além da nossa compreensão. Apenas o homem frente ao seu maior temor, a morte. Perdão e redenção, vida e morte dão o tom a essa temporada.

Sookie Stackhouse (Anna Paquin) está num relacionamento estável com Alcides(Joe Manganiello). Sua vida envolta com os vampiros ficou no passado. Sam (Sam Trammell), agora como prefeito de Bom Temps, com a ajuda do reverendo Daniels (Gregg Daniel) e do vampiro Bill (Stephen Moyer) colocam em prática uma ideia perigosa. Frente ao crescente ataque de vampiros às cidades, devido a disseminação do vírus hepatite V, os três se unem com um propósito: para cada humano sadio, um vampiro sadio. Nessa relação, o humano lhe dará do seu sangue e o vampiro sua proteção.

Tudo segue certo para a concretização desse plano. No restaurante de Arlene(Carrie Preston) todos os preparativos estão feitos para os pactos serem realizados. Entretanto um grupo de vampiros contaminados invade a festa provocando morte, perdas e dúvidas. Entre os que morrem está Tara (Rutina Wesley), entre as sequestradas por estes vampiros estão Holly (Lauren Bowles), Arlene.

Após esse incidente, os ânimos se afloram e todos nesta cidade se deparam com o medo, o caos, a incerteza e a violência. A quem culpar por todas as mortes? Sookie. Ela é a culpada por todos os atos que aconteceram nesta cidade. Nada mais justo, afinal, foi após a chegada do vampiro Bill na vida dela e desta cidade que tudo mudou. Correndo por fora temos Pam (Kristin Bauer) em busca de seu criador, Erick (Alexander Skarsgård) e se deparando com uma dura realidade para seu criador.



É com esta temática simples, porém focada nos personagens que True Blood entrega sua última temporada. Ninguém vive para sempre. Esta é a única certeza que temos e será esta certeza que guiará a todos os personagens. 
Quando True Blood foi lançada há sete anos, os vampiros estavam na moda. Nos cinemas, a saga Crepúsculo ganhava seus fãs. Na tv “Diários Vampíricos” mostrava sua força entre os adolescentes. Neste território fértil, surge True Blood com uma temática ousada, nova, mergulhada em cenas quentes e fortes, onde o sexo e o sangue mostram sua cara.
A série começou bem, alcançou seu ápice na segunda temporada. Entretanto, após o terceiro ano se perdeu em tramas, subtramas e muitos personagens. O quarto ano trouxe um pouco de paz e calma ao seriado, promovendo uma temporada mais intimista, terna, sensível e tocante. O quinto ano novamente estragou tudo. Coube ao sexto ano do seriado arrumar a casa e preparar o terreno para a última temporada.
Neste sétimo ano, True Blood começou genial. A temporada por ter apenas dez episódios, mostrou um enredo que não tinha tempo a perder com nada. Talvez seja porque vi o seriado após ele ser encerrado, já sabendo com antecedência o que viria. Talvez seja porque vi os episódios numa sequencia única, ou sei lá, mas particularmente considerei a temporada boa em todo seu contexto. Houve falhas, entretanto houve muitos acertos.



Com a disseminação do vírus, um medo se alastrou por todos da cidade. Quando o medo prevalece, o caos mostra sua face e o pior do homem também. Os vampiros contaminados foram representados num primeiro momento como zumbis, seres sem consciência com apenas um instinto, permanecerem vivos. 

Porém, com o desenrolar dos episódios vemos que eles em nada mudaram. Permanecem os mesmos vampiros de antes, apenas com um diferencial: sabem que irão morrer em breve e não desejam a morte verdadeira e para isso farão o que for possível. Ao vermos de pertos estes seres, vemos seus medos e temores e compreendemos sua situação.

A temporada tem esse arco, os vampiros contaminados, como o principal arco da série e é este que une a todos os personagens. Essa trama dura até o quarto episódio, sendo encerrada ainda no começo. Até este presente momento, a série se preocupou em dar uma guinada na série, eliminar personagens e unir as tramas e deu certo. Esta trama conseguiu dar motivo, razão e existência a tantos personagens. Fazia tempo que não víamos todos os núcleos centrados numa única trama. No primeiro episódio tivemos o caos instalado, no segundo a certeza do que acontecerá a cidade de Bom Temps caso os moradores da cidade não façam nada. No terceiro tivemos mais uma morte e a libertação de Holly e no quarto o fechamento deste arco. 

Além do mais, esse arco foi belamente usado para nos mostrar como o “outro” pode ser construído diante de nós. Quando vemos de perto esse “outro”, este desconhecido, vemos que nada ele difere de nós. Neste sentindo, colocamos sobre o “outro” nossas próprias características e particularidades.




Após o quinto episódio, o que tivemos foi um encerramento de todos os personagens em seus respectivos arcos e dramas.

Tara e Alcides foram personagens que tiveram sua morte repentina. Foi algo que causou surpresa, entretanto era algo esperado, já que ambos os personagens não tinham mais o que agregar ao enredo da série. E eles também foram usados para mostrar como a morte é em nossas vidas, quando ela chega, ela simplesmente chega e não há nada que podemos fazer para mudar ou modificar isso. Apenas aceitar e viver o luto e a dor.

Tara ainda em espírito permaneceu na trama para encerrar um drama muito comovente, o de sua mãe. A relação dela com sua mãe sempre fora marcada por brigas e feridas. Por traz de toda dor sempre há um motivo, sempre e este foi revelado. Para que possamos continuar vivendo, é preciso aceitar a vida, aceitar as limitações, aceitar os traumas e deixar a dor nos tomar, como um rio que percorre todo o nosso ser. 

True Blood sempre focou neste tema, continue vivendo, continue respirando, apenas continue, mas antes que possamos continuar, é preciso aceitar que o passado não se pode mudar, apenas o nosso presente e futuro.

Jessica (Deborah Ann Woll) também caminhou por este percalço e seu reencontro com Hoyt (Jim Parrack) foi uma mostra que a vida é feita de momentos e reviravoltas que não podemos controlar. O que fazer diante da morte, do amor, da vida. Nada, apenas aceitar, da melhor forma possível aceitar. O mundo não para diante de nossa dor. Seu desfecho com Hoyt foi um dos mais ternos de toda série.



Dentre tantos encerramentos de arcos, o que mais chama a atenção é para Bill e Sookie. Quando passa o temporal, o sol volta a brilhar. Sookie é uma fada, tem a capacidade de ler mentes, ouvir os pensamentos de todos os que estão a sua volta. Quando chega a sua cidade Bill, seu mundo entre num profundo caos e toda cidade materializa essa mudança, esse caos, essa transformação. Para se ter a ordem, necessitamos do caos, para percebemos quem somos, o que realmente desejamos e queremos nessa vida.

E assim essa personagem percorreu por estes sete anos. Ao final, não haveria como dar continuidade a este casal. Bill representava na vida dessa fada o perigo, a morte, o medo e o passado. Ela se libertar dele é se libertar de todos os males que assombram sua vida e aceitar sua condição enquanto ser que é. Durante toda temporada, Sookie sempre desejou ser normal, ter uma vida pacata. Ao ter essa possibilidade, ela viu diante de si o que estava prestes a perder e quem realmente era em toda essa história. 

Assim ela se transformou de vitima, moça em perigo à uma garota com certeza do que quer, dos poderes que tem e da força que possui. Deixar de lado esse lado “vitima” é algo complicado. Quando aceitamos que somos nós que fazemos nossas escolhas e nos responsabilizamos por nossa vida, deixamos de sermos seres passivos com relação a vida e no tornamos pessoas ativas com relação ao nosso destino. Esse foi o caminho dessa fada, dessa telepata.

Tirando toda essa metáfora sobre a vida, True Blood entregou um sétimo ano básico em suas ações. No centro da trama, temas como preconceito, intolerância se fizeram presente, mas em menor escala. O motivo para a existência dessa temporada foi apenas o de finalizar estes arcos e dar uma morte verdadeira a toda temporada e assim foi. Cada personagem se deparou com seus sentimentos e nada muito grande foi criado, ou muito comovente. Arlene e seu novo caso amoroso, estabelece uma relação com ele, em apenas uma frase "tenho hepatite V, não podemos transar". E assim essa história segue.


Ao final, a cena final é a que prevalece: todos sentados a mesa comemorando a vida, a morte, a dor. Como um banquete a vida, com elementos que nos remetem a vida e elementos que nos remetem a morte. Ou seja, o amor é a morte verdadeira. 



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