Quando cessa o temporal, o sol volta a
brilhar.
Em sua sétima e última
temporada, True Blood traz para o centro da trama uma história simples, calcada
em seus personagens, dramas e temores. Não, não há grandes batalhas ou vilões
que vão além da nossa compreensão. Apenas o homem frente ao seu maior temor, a
morte. Perdão e redenção, vida e morte dão o tom a essa temporada.
Sookie Stackhouse (Anna
Paquin) está num relacionamento estável com Alcides(Joe Manganiello). Sua vida
envolta com os vampiros ficou no passado. Sam (Sam Trammell), agora como
prefeito de Bom Temps, com a ajuda do reverendo Daniels (Gregg Daniel) e do
vampiro Bill (Stephen Moyer) colocam em prática uma ideia perigosa. Frente ao
crescente ataque de vampiros às cidades, devido a disseminação do vírus
hepatite V, os três se unem com um propósito: para cada humano sadio, um
vampiro sadio. Nessa relação, o humano lhe dará do seu sangue e o vampiro sua
proteção.
Tudo segue certo para a
concretização desse plano. No restaurante de Arlene(Carrie Preston) todos os
preparativos estão feitos para os pactos serem realizados. Entretanto um grupo
de vampiros contaminados invade a festa provocando morte, perdas e dúvidas.
Entre os que morrem está Tara (Rutina Wesley), entre as sequestradas por estes
vampiros estão Holly (Lauren Bowles), Arlene.
Após esse incidente, os
ânimos se afloram e todos nesta cidade se deparam com o medo, o caos, a
incerteza e a violência. A quem culpar por todas as mortes? Sookie. Ela é a
culpada por todos os atos que aconteceram nesta cidade. Nada mais justo,
afinal, foi após a chegada do vampiro Bill na vida dela e desta cidade que tudo
mudou. Correndo por fora temos Pam (Kristin Bauer) em busca de seu criador,
Erick (Alexander Skarsgård) e se deparando com uma dura realidade para seu
criador.
É com esta temática
simples, porém focada nos personagens que True Blood entrega sua última
temporada. Ninguém vive para sempre. Esta é a única certeza que temos e será
esta certeza que guiará a todos os personagens.
Quando True Blood foi
lançada há sete anos, os vampiros estavam na moda. Nos cinemas, a saga
Crepúsculo ganhava seus fãs. Na tv “Diários Vampíricos” mostrava sua força
entre os adolescentes. Neste território fértil, surge True Blood com uma
temática ousada, nova, mergulhada em cenas quentes e fortes, onde o sexo e o
sangue mostram sua cara.
A série começou bem,
alcançou seu ápice na segunda temporada. Entretanto, após o terceiro ano se
perdeu em tramas, subtramas e muitos personagens. O quarto ano trouxe um pouco
de paz e calma ao seriado, promovendo uma temporada mais intimista, terna,
sensível e tocante. O quinto ano novamente estragou tudo. Coube ao sexto ano do
seriado arrumar a casa e preparar o terreno para a última temporada.
Neste sétimo ano, True
Blood começou genial. A temporada por ter apenas dez episódios, mostrou um
enredo que não tinha tempo a perder com nada. Talvez seja porque vi o seriado
após ele ser encerrado, já sabendo com antecedência o que viria. Talvez seja
porque vi os episódios numa sequencia única, ou sei lá, mas particularmente
considerei a temporada boa em todo seu contexto. Houve falhas, entretanto houve
muitos acertos.
Com a disseminação do
vírus, um medo se alastrou por todos da cidade. Quando o medo prevalece, o caos
mostra sua face e o pior do homem também. Os vampiros contaminados foram
representados num primeiro momento como zumbis, seres sem consciência com
apenas um instinto, permanecerem vivos.
Porém, com o desenrolar dos episódios
vemos que eles em nada mudaram. Permanecem os mesmos vampiros de antes, apenas
com um diferencial: sabem que irão morrer em breve e não desejam a morte
verdadeira e para isso farão o que for possível. Ao vermos de pertos estes
seres, vemos seus medos e temores e compreendemos sua situação.
A temporada tem esse arco,
os vampiros contaminados, como o principal arco da série e é este que une a
todos os personagens. Essa trama dura até o quarto episódio, sendo encerrada
ainda no começo. Até este presente momento, a série se preocupou em dar uma
guinada na série, eliminar personagens e unir as tramas e deu certo. Esta trama
conseguiu dar motivo, razão e existência a tantos personagens. Fazia tempo que
não víamos todos os núcleos centrados numa única trama. No primeiro episódio
tivemos o caos instalado, no segundo a certeza do que acontecerá a cidade de
Bom Temps caso os moradores da cidade não façam nada. No terceiro tivemos mais
uma morte e a libertação de Holly e no quarto o fechamento deste arco.
Além do mais, esse arco
foi belamente usado para nos mostrar como o “outro” pode ser construído diante
de nós. Quando vemos de perto esse “outro”, este desconhecido, vemos que nada
ele difere de nós. Neste sentindo, colocamos sobre o “outro” nossas próprias
características e particularidades.
Após o quinto episódio, o
que tivemos foi um encerramento de todos os personagens em seus respectivos
arcos e dramas.
Tara e Alcides foram
personagens que tiveram sua morte repentina. Foi algo que causou surpresa,
entretanto era algo esperado, já que ambos os personagens não tinham mais o que
agregar ao enredo da série. E eles também foram usados para mostrar como a
morte é em nossas vidas, quando ela chega, ela simplesmente chega e não há nada
que podemos fazer para mudar ou modificar isso. Apenas aceitar e viver o luto e
a dor.
Tara ainda em espírito
permaneceu na trama para encerrar um drama muito comovente, o de sua mãe. A
relação dela com sua mãe sempre fora marcada por brigas e feridas. Por traz de
toda dor sempre há um motivo, sempre e este foi revelado. Para que possamos
continuar vivendo, é preciso aceitar a vida, aceitar as limitações, aceitar os
traumas e deixar a dor nos tomar, como um rio que percorre todo o nosso ser.
True Blood sempre focou neste tema, continue vivendo, continue respirando,
apenas continue, mas antes que possamos continuar, é preciso aceitar que o
passado não se pode mudar, apenas o nosso presente e futuro.
Jessica (Deborah Ann Woll)
também caminhou por este percalço e seu reencontro com Hoyt (Jim Parrack) foi
uma mostra que a vida é feita de momentos e reviravoltas que não podemos
controlar. O que fazer diante da morte, do amor, da vida. Nada, apenas aceitar,
da melhor forma possível aceitar. O mundo não para diante de nossa dor. Seu
desfecho com Hoyt foi um dos mais ternos de toda série.
Dentre tantos
encerramentos de arcos, o que mais chama a atenção é para Bill e Sookie. Quando
passa o temporal, o sol volta a brilhar. Sookie é uma fada, tem a capacidade de
ler mentes, ouvir os pensamentos de todos os que estão a sua volta. Quando
chega a sua cidade Bill, seu mundo entre num profundo caos e toda cidade
materializa essa mudança, esse caos, essa transformação. Para se ter a ordem,
necessitamos do caos, para percebemos quem somos, o que realmente desejamos e
queremos nessa vida.
E assim essa personagem
percorreu por estes sete anos. Ao final, não haveria como dar continuidade a
este casal. Bill representava na vida dessa fada o perigo, a morte, o medo e o
passado. Ela se libertar dele é se libertar de todos os males que assombram sua
vida e aceitar sua condição enquanto ser que é. Durante toda temporada, Sookie
sempre desejou ser normal, ter uma vida pacata. Ao ter essa possibilidade, ela
viu diante de si o que estava prestes a perder e quem realmente era em toda
essa história.
Assim ela se transformou de vitima, moça em perigo à uma garota
com certeza do que quer, dos poderes que tem e da força que possui. Deixar de
lado esse lado “vitima” é algo complicado. Quando aceitamos que somos nós que
fazemos nossas escolhas e nos responsabilizamos por nossa vida, deixamos de
sermos seres passivos com relação a vida e no tornamos pessoas ativas com
relação ao nosso destino. Esse foi o caminho dessa fada, dessa telepata.
Tirando toda essa metáfora
sobre a vida, True Blood entregou um sétimo ano básico em suas ações. No centro
da trama, temas como preconceito, intolerância se fizeram presente, mas em menor
escala. O motivo para a existência dessa temporada foi apenas o de finalizar
estes arcos e dar uma morte verdadeira a toda temporada e assim foi. Cada personagem se deparou com seus sentimentos e nada muito grande foi criado, ou muito comovente. Arlene e seu novo caso amoroso, estabelece uma relação com ele, em apenas uma frase "tenho hepatite V, não podemos transar". E assim essa história segue.
Ao final, a cena final é a
que prevalece: todos sentados a mesa comemorando a vida, a morte, a dor. Como
um banquete a vida, com elementos que nos remetem a vida e elementos que nos
remetem a morte. Ou seja, o amor é a morte verdadeira.
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