sábado, 4 de abril de 2015

Caminhos da Floresta



Sombrio, envolvente e divertido. Em “Caminhos da floresta” uma gama de personagens se cruzam na busca de realizarem seus desejos e mostram as consequências destes. Em sua mais nova investidura no cinema, os estúdios da Disney relança seu mais novo olhar sobre os famosos contos de fadas.

Numa pequena vila há um padeiro (James Corden) e sua esposa (Emily Blunt) que desejam ter um filho, mas não podem. Neste caminho ainda há uma garotinha que precisa ir visitar sua vó na floresta, mas deseja viver novas aventuras. Uma jovem chamada Cinderela (Anna Kendrick) que deseja ir ao baile do príncipe (Chris Pine), entretanto não possui as condições e sua madrasta (Christine Baranski) não permite e um garoto, João (Daniel Huttlestone) que deseja uma melhor condição de vida, sem precisar vender a vaca que tanto ama.

Em meio a tantos desejos, uma bruxa (Meryl Streep) tenta realizar os desejos destes personagens, mas para isso precisará de certos objetos. Uma capa mais vermelha que o sangue, a vaca mais branca do que o leite, os cabelos mais louros que o milho e os sapatos mais puros do que o ouro.

Na busca destes desejos, estes personagens irão se cruzar, em meio a um musical que fala sobre desejos e consequências e sobre como somos os únicos responsáveis por nossas atitudes.



Os contos de fadas dos Irmãos Grimm, sempre foram lançados aos cinemas pela Disney com uma áurea mágica e inocente. Sendo tratadas como contos de fadas, valores como amor, ternura, força e garra foram abordados e sempre valorizados. O bem sempre vencia ao final da história e o mal e suas ações sempre eram castigados. Havia uma clara distinção entre o herói e o vilão.

Nessa nova abordagem os personagens perdem essas particularidades e a distinção entre o bem e o mal se esvai. Baseado na peça de teatro da  Broadway muito bem recebida pela crítica, “Caminhos da floresta” tenta capturar a essência dos contos de fadas dos irmãos Grimm,. Histórias mais sombrias, macabras, dotadas de complexidade, dramaticidade e onde o elemento do horror prevalece.

Neste novo drama, a Disney tenta manter essa dramaticidade. Apesar do elemento terror não prevalecer com grande força, ele ainda se encontra no filme, pelas suposições, pelos não ditos, pelos detalhes, silêncios e diálogos. A fotografia sempre é escura, a trilha possui em sua melodia tom pesados, seguidos por um musical gracioso e penetrante.

O longa começa bem, com uma boa desenvoltura entre todos os personagens. Os principais fatores das tramas dos contos são mantidos. Entretanto, nada com muitos detalhes. As histórias tem como elo de ligação a bruxa, o padeiro e sua esposa. São eles que guiam o filme, dando dramaticidade e alivio cômico também. Cada personagem nesse caminho tem algo a desejar e são por estes desejos que serão movidos.




Passado algum tempo de projeção, o longa meio que se perde em sua trama. Quando todos conseguem o tão final feliz, a impressão que temos é que algo está errado e não há mais para onde caminhar. É neste instante que o longa modifica toda sua estrutura e mostra sua verdadeira face. 

“Caminhos da floresta” aposta num belo musical para mostrar homens e mulheres em suas vidas e suas dores. Esqueça os finais felizes, ou o príncipe encantado dotado de qualidades. Neste drama/comédia, os estereótipos se desfazem e vemos o bem e o mal com a mesma proporção.

O príncipe encantando não é tão encantado assim, a bruxa que ameaça a todos, não é tão vilã assim. Enfim, o que o roteiro faz com estes personagens é humaniza-los, ou seja, dar mais pecados e falhas a estes homens e mulheres e mediar as perfeições, afinal, somos humanos, marcados e moldados tanto pelo bem, quanto pelo mal. Cada personagem deseja algo em particular e estes serão realizados, tais desejos provocará toda uma cadeia de acontecimentos que promoverão desfechos marcados pela dor, sofrimento e morte.



Em se tratando de características cinematográficas, o longa possui muitas qualidades. Com uma desenvoltura ágil, o drama intercala as tramas e personagens de forma gostosa e divertida. A fotografia é marcada por tonalidades escuras em que o preto e o azul prevalecem. As sombras ganham destaque e um tom sombrio decai sobre todos os personagens.

O musical é outro destaque. Sem ter números musicais de fato, os personagens apenas cantam suas falas numa melodia gostosa. O elenco está muito bem afinado, cantando e atuando em grande estilo. James Corden e Emily Blunt, assim acompanhado por Meryl Streep Anna Kendricklevam se destacam.

“Caminhos da floresta” é isso, é um divertido musical que agrega em seu roteiro toda essência das histórias dos Irmãos Grimm,. Um longa em que temos a possibilidade de rever essas tramas, impregnadas por essas primeiras características.


O longa possui um tom de moralismo, isso é fato, mas, ainda assim, esse moralismo não se sobressai sobre o drama e ao final, só temos uma certeza: “finais felizes” nem nos contos de fadas. 


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