A perda é algo irreparável. A perda de uma pessoa querida, de um amor, de uma ilusão. O vazio que fica é estremecedor e os motivos para se seguir adiante, por mais que se busque, sempre serão ofuscados por essa sensação de que está faltando algo. É sobre esse momento tão delicado e tão próximo de nós que trata esse filme.
Apesar do título soar um romance dramático, o longa nada tem de romântico, mas uma profunda e amarga tragédia sobre uma mulher que tenta encontrar seu lugar num mundo que, aparentemente, não lhe pertence mais e nem ela pertença a ele.
Juliette (Kristin Scott Thomas) deixou a prisão após cumprir uma pena de quinze anos pelo crime de ter matado seu filho. Nesse tempo, ela perdeu de sua vida o marido, amigos e a família que se recusaram a visitá-la na cadeia. Sem ter para onde ir ou como recomeçar, sua irmã caçula, Léa (Elsa Zylberstein), a aceita em casa. A última vez que se viram e conviveram juntas, fora quando criança, após o crime, os pais de Juliette negaram sua existência, afirmando que Léa era filha única. Nesse sentido, quando ela aparece, todos ficam surpresos, pois ninguém tinha conhecimento da existência dela. Até Léa fica apreensiva e confusa com relação ao passado, ela sabia da existência de sua irmã, mas por ser criança e com seus pais sempre calados sobre a existência dela, seus pensamentos e sentimentos ficaram totalmente confusos
Com muita dificuldade, Juliette tentará achar um emprego e uma forma de sustento, mas por ser uma ex-presidiária, não será nada fácil. O preconceito a rondará de todos os lados, seja pelos olhos desconfiados do marido de sua irmã, pelo olhar inquieto e, as vezes, camuflado de sua irmã e por fim, de todos os que a entrevistam. Alguns serão diretos, dizendo que não a querem trabalhando com eles, mesmo ela tendo um excelente currículo, outros, de forma indireta, apenas afirmando que não serve para o trabalho.
O filme tem um clima pesado, sofrível e doloroso: a fotografia sempre distante, entretanto, sempre focando nos olhos de Juliette, olhar esse distante, perdido e vazio; a trilha sonora calma, lenta, quase imperceptível, com vastos silêncios; a falta de diálogos entre as irmãs, entre os personagens e por fim, uma dificuldade de Juliette em se relacionar com todos a sua volta. Todos esses detalhes apenas intensificam esse clima tão gélido da película. O longa que é francês tem todas as características possíveis de um clima francês no ar. As belas paisagens de uma pequena cidade, os cafés com todos fumando e se esbaldando em pequenas xícaras dessa bebida, o tema da solidão sempre presente, poucos diálogos, em que apenas a expressão facial consegue dizer tudo, e mais um pouco, enfim, personagens perdidos, que tentam, a cada dia, suportar mais um dia.
Apesar do longa ser tão frio, conseguimos nos apegar a protagonista, mesmo não tendo conhecimento do real fato que a levou ficar presa por todos esses anos. Ela simplesmente se sente fora do eixo, mas nem ela mesmo deseja sentir-se em casa, é como se ainda permanecesse presa e algemada a uma prisão interior, que jamais deixará de existir. Por mais que ela tenha cumprido sua pena, para ela, jamais haverá perdão. Seu passado sempre estará presente.
O diretor que é estreante consegue obter nesse primeiro trabalho um filme profundo, intimista, seguro, terno e humano. Indicado ao Globo de outro de melhor filme estrangeiro e melhor atriz, para Kristin Scott Thomas, no papel de Juliette, o longa foi bem recebido pela crítica e motivos para tal proeza não faltam. Por falar em elenco, todos os atores estão muito bem, mas Kristin leva o destaque. Seus olhos e sua face conseguem exprimir tanta dor e vazio, um trabalho impressionante da atriz. Ela consegue repassar uma série de sentimentos, pois no fundo, nem ela sabe o que sentir diante do que está passando.
Uma das cenas mais marcantes é quando ela toma conhecimento do que aconteceu ao policial que a acompanhava, naquele momento, ela percebe que não possui o controle de nada. Dor, desespero e tensão, sentimentos tão variados, mas que a tomam ao mesmo tempo. O que fazer diante de algo que não se pode mudar ou modificar. Outra cena que merece os créditos é para a última, dizer que ficamos surpresos é difícil, pois já se percebia que o longa iria por esse caminho, mas dizer que não ficamos comovidos, é impossível.
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