A vida pode ser contínuos dias de tortura
Um homem único, ou algo parecido com Um homem só, pois me recuso a pronunciar o título desse filme em português. Um longa que fala sobre a perda e a morte em vida, como viver se nada mais vale a pena.
George (Colin Firth) é um homem que perdeu há um ano seu amante, namorado Jim (Matthew Goode). Após isso sua vida tornou-se monótona e sem razão até que um dia ele acorda com um único intuito, cometer suicídio. Para isso, ele acorda e vive as últimas sensações de sua vida. Lava o rosto, veste sua roupa, coloca a gravata, toma o café e segue ao trabalho, onde expõe a última aula e segue até a casa de sua melhor amiga. No decorrer desse dia ele age de forma normal, mas na vida nada é tão simples.
O filme se passa na década de 50. Somos apresentados a esse casal por meio de flash back. Começa do último momento entre eles e encerra com a lembrança de como se encontraram. Por serem discretos viviam ainda sob anonimato, mas todos sabiam e comentavam. A família do rapaz não gostava dele, mas George não dava importância a esse fato. Sério, direto, após a perda torna-se depressivo e frio.
Com um tema forte, o filme foca na morte em vida. Acordar, respirar, caminhar, trabalhar, enfim, viver. E quando todas essas rotinas simplesmente perdem o sentido, o que resta é apenas o silêncio e vazio de uma vida. Nesse sentido é que se encontra George. Jim representava tudo isso para ele, quando o perde, toda a base sólida de sua existência se esfarela, se desfaz, se quebra. Todas essas dores são nos passado por meio dos detalhes do longa. Por meio da fotografia, ora apagada, ora viva. A expressão vazia, a trilha quase imperceptível. Um filme que se prende aos detalhes.
A fotografia, figurino, trilha são simplesmente perfeitos. Quase não há falhas ou imperfeições. As roupas são sempre belas, as mulheres bem trajadas, com penteados simplesmente primorosos. Parece que saíram de um salão de beleza direto para a escola, mercado ou algo do gênero. A trilha é densa e suave, não marca, não atrapalha. A fotografia é interessante, pois é opaca, sem muitas cores vivas na maior parte do longa, somente passa a ser mais quente, com cores fortes nos momentos em que George por um momento só, sente uma certa vida, nas suas lembranças, a conversa direta com Kenny (Nicholas Hoult), o encontro com um rapaz numa loja de conveniência, o momento com sua amiga, Charlotte (Julianne Moore) e no fim do filme se usam essas cores.
As atuações são outro ponto forte. Além de ter uma técnica muito apurada que valeram muitos elogios ao filme, os personagens principais simplesmente estão ótimos. Colin Firth é um ator britânico muito competente, porém que nunca teve a oportunidade de mostrar toda a sua capacidade como ator. Se prendendo em comédias românticas, dificilmente aparecia num drama. Mas nesse filme, além de viver um personagem polêmico, pois afinal, viver um professor homossexual em plena década de 50 em que se via a homossexualidade como doença, não é nada fácil, ele dá vida a um personagem sem motivação, que não pensa mais em nada, simplesmente, dormir e acordar. Em falar nisso, acordar para ele é um martírio. Sua expressão, tom da voz, andado, postura, tudo mostra essa depressão, essa falta de vida. Uma das melhores atuações do ano e em minha opinião,merecia receber o Oscar de melhor ator, tanto pela atuação extremamente boa, quanto pelo peso do personagem.
Julianne Moore está soberba, encantadora e sensual como a melhor amiga. Com uma atuação singela, foi agraciada com uma indicação ao Globo de ouro, mas esquecida pelo Oscar. Extremamente competente. Sua personagem é densa, engraçada, muda de ares a todo o momento. Uma das melhores atrizes do momento que sabe escolher os personagens e que até agora, infelizmente, nunca recebeu uma estatueta. Outro ator que se destaca é o jovem Nicholas Hoult que vive perseguindo o professor por uma atenção. Sua atuação é forte, magnetizadora, direta.
Toda essa perfeição nos detalhes tem um motivo. Quem assina a direção, roteirizarão e produção do filme é o famoso estilista Tom Ford. Ele simplesmente se lança nessa empreitada, investindo muito dinheiro do próprio bolso. Famoso por conseguir salvar uma marca de roupa, consegue em sua primeira investida no cinema fazer um filme muito bom. Talvez tenha pecado pelo excesso de perfeição, pois afinal, um mundo tão arrumado quanto esse não existe, mas nos dá uma impressão que talvez valha a pena tanta perfeição,pois num mundo em que não há defeitos e todos estão belos e bonitos e não existe pobreza, miséria ou desigualdade, ainda existem pessoas marcadas pela dor e infelicidade.
Um belo filme que se apega desde os detalhes, como figurino, câmeras, maquiagem, até os passos mais pesados do cinema, como atuação e direção. Nunca caindo no melodrama, mas sempre mostrando o peso da vida, faz com que a pessoa que está assistindo torça para que George perceba a vida que está perdendo. Com um final suntuoso, a direção não cai no clichê e permanece segura e firme.
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