segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Destinos Ligados


Karen (Annette Bening) uma fisioterapeuta quarentona, amarga e solitária, que vive com a mãe e guarda a sete chaves a dor de ter dado sua filha à adoção quando tinha apenas 14 anos. Elizabeth (Naomi Watts), uma advogada insensível e ambiciosa que se envolve com o seu patrão e um vizinho casado e por fim, Lucy (Kerry Washington) uma jovem com o sonho de ter um filho, porém é incapaz de engravidar e por esse motivo recorre à adoção, mas acaba presa aos gostos e mudanças comportamentais de uma adolescente grávida. O que une essas três mulheres, apesar de terem suas histórias correndo paralelamente, é a questão da adoção. Karen deu uma filha para adoção, Elizabeth é essa filha que nasce sem a referência de uma família de verdade e carrega a dor de ter sido abandonada e Lucy é uma jovem incapaz biologicamente de formar uma família, mas que deseja isso mais do que tudo, porém teme que no final não dará certo, ou que não conseguirá amar a criança como ela dever ser amada.

Com um filme intimista, profundo e simples, somos apresentados a essas três personagens que carregam junto de si a dor de uma vida, a dor de não poder mudar o curso e o destino de suas vidas, seja por erros do passado ou por circunstâncias da vida. 
                       


Suas personagens estão mergulhadas num profundo abismo. Karen tenta ser amigável, mas quando percebe, já soltou alguma pérola rascante em direção a alguém. Nem sua mãe se abre com ela, prefere relatar os males da vida com a empregada do que com sua própria filha, mas após sua mãe falecer, Karen percebe que não tem mais ninguém e caso não mude a sua visão de mundo, ficará para sempre sozinha.
Elizabeth sente-se confortável em não ter uma família, não ter a quem se apegar. Seu envolvimento com seu chefe será por questões sexuais e com seu vizinho será por um desejo de ver abalado o casamento dele, ou por apenas conseguir seduzir alguém que está comprometido com o outro.
Lucy é uma jovem bem sucedida que ama o marido, mas que carrega a dor de não poder dar um filho a ele, por esse motivo, acaba ficando neurótica e não percebendo o momento delicado pelo qual o seu casamento vem passando.



Suas histórias caminham quase nunca se encontrando. Karen e Elizabeth, por serem mãe e filha, têm em comum um laço, mas com Lucy, essa ligação se dará ao final do filme. Todas as personagens vão sofrendo uma mudança no comportamento conforme o longa vai caminhando. Karen, somente após perder a mãe é que vai tentar superar o passado. Numa conversa com a empregada em que se dará um dos momentos mais delicado e profundo do filme, ela perceberá a infelicidade em sua vida e a dor de seu passado. Elizabeth após receber uma notícia, mudará toda a rotina e ambições de sua vida. Ela será a única personagem em que os sentimentos não serão bem compreendidos, talvez por uma falha no roteiro em não conseguir explicar com exatidão em que ponto ela queira chegar. Lucy mergulhará profundamente na ideia de ser mãe e ficará cega por esse desejo, porém o receio da adoção e da impossibilidade de engravidar aumentarão com o tempo.


O longa em si é lento, arrastado, caminha sem estar preocupado em encerrar seus dramas bruscamente e tudo soa para isso: os poucos diálogos entre os personagens, a bela trilha sonora quase imperceptível, a fotografia gélida e com pouca vida. Em falar nisso, esses são um dos pontos mais fortes do filme. No drama também nada é declarado diretamente e na única cena em que isso acontece de fato, que é quando Karen se abre indiretamente com a empregada a questionando porque sua mãe nunca se abriu com ela, é em que os sentimentos são ditos com mais voracidade, fora isso, tudo se dá pelos gestos e expressões, enfim, pelos olhares. Nada é forçado, nada acontece gratuitamente, todos os dramas são tratados com muita delicadeza.
A direção é de Rodrigo Garcia, filho de Gabriel Garcia Marques, autor do célebre Cem anos de solidão. Garcia, o filho, tem apenas em seu currículo poucos filmes, são dele Coisas que você pode dizer só de olhar para ela e Nove mulheres, nove vidas. Em todos esses longas ele tem como objetivo analisar a alma e os sentimentos femininos e isso com uma delicadeza impressionante. Ele também esteve a frente de alguns episódios da aclamada série A sete palmos.




O elenco, composto por grandes nomes numa produção independente, está ótimo. Annette Bening está incrível: segura e firme consegue mostrar a dor de sua personagem apenas pela sua expressão. Naomi Watts é um dos nomes fortes do filme numa excelente atuação. Sua personagem é fria, calorosa, distante e confusa e todos esses momentos pelo qual essa passa é mostrada de forma esplendida pela atriz. Samuel L. Jackson está num papel que não o vejo com freqüência, mas que leva com competência.
Bom, Destinos ligados, apesar de ter como eixo central da história a questão da adoção, retrata a dor e aceitação da vida. Compreender o que se tem e aceitar o que a vida lhe proporcionou é uma das ideias do longa. O final do filme é triste e comovente, não há como não se sensibilizar com esse drama. A vida pode ter inúmeras surpresas, assim como ela pode ser trágica, ela pode nos reservar momentos de pura felicidade que só serão vividos ou apreciados quando seguimos em frente. Assim é vida, ela nos conforta em sua continuidade, com seus imprevistos.

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