quinta-feira, 9 de junho de 2011

Amor sem escalas

Com um roteiro inteligente e sagas, drama trabalha a questão da solidão e o vazio em todos nós.

Olhando para o título do filme, “Amor sem escalas” poderia lembrar uma daquelas comédias românticas bobas, talvez engraçadas e com um final bem romanceado, cheio de frases que nos comovem e nos dão fortes conselhos sobre a vida, ou seja, uma auto-ajuda porreta, mas esse longa vai na contra mão e nos mostra um drama denso, adulto, maduro e com um desfecho que com certeza não agradaria aos fãs desses tipos de comédias românticas.
Pago para viajar pelos Estados Unidos despedindo funcionários de empresas em crise, Ryan Bingham (George Clooney) sempre se contentou com um estilo de vida desapegado, passando em meio a aeroportos, hotéis e carros alugados. Ele consegue carregar tudo o que precisa em uma mala de mão, é membro de elite de todos os programas de fidelidade existentes e está próximo de atingir 10 milhões de milhas voadas.
Mas quando o chefe de Ryan, inspirado por uma eficiente e novata funcionária Natalie (Anna Kendrick) ameaça mantê-lo permanentemente na sede da empresa, ele se vê entre a perspectiva – ao mesmo tempo aterrorizante e agradável – de ficar em terra firme, contemplando o que realmente pode significar ter um lar. Nesse meio tempo ele conhece ainda Alex (Vera Farminga), uma mulher atraente com todas as qualidades e defeitos que ele possui, porém na versão mulher, ou como ela mesmo diz em certa altura do filme, ele com uma vagina.



O que vemos nesse drama é a solidão nos mais diversos tipos e formas e ela se materializa com exatidão no apartamento de Ryan. Sempre há apenas uma cadeira em seu apartamento, uma única escova de dentes em seu banheiro ou durantes as viagens sempre há uma poltrona vazia ao lado. Vivendo pouco em seu apartamento, nunca conhece os vizinhos, sua família nunca consegue encontrá-lo, amigos praticamente não têm. Não pensa em se casar ou ter filhos.

Assim é a solidão em que ele está inserido, mesmo caminhando entre tantas pessoas e conversando com várias, Ryan se sente só e ele simplesmente se rende a esse modo de vida por escolha.

Mas duas pessoas o marcarão fortemente, mesmo a contragosto. Primeiro sua parceira, Natalie que o acompanha em algumas viagens e o questiona constantemente sobre seu modo de vida e se ele fica chocado com o trabalho que realizam. Apesar de Natalie entrar como uma nova proposta, a de informatizar um trabalhão já muito frio e de certa forma desgastante, ela não consegue encontrar as palavras corretas para usar na hora de demitir alguém. Por mais que queira, não consegue ser distante da dor dos outros ou insensível num momento tão trágico na vida de alguém.
Ryan é contra esse método, não pelo fato desse sistema ser desumano, mas porque as chances dele não poder mais viajar constantemente o aflige. Ter que passar os natais, festas de fim de ano e ações de graça (no caso dos americanos) em casa não é uma boa ideia, pois sua vida é solitária e esse fato ele mesmo reconhece.

Já outra mulher que causará um certo abalo em sua rotina é Alex, com quem ele desensolve uma relação movida a sexo. Os dois se sentem bem juntos, mesmo não havendo nenhum compromisso entre eles. Tentam agendar suas viagens para que possam se encontrar, mas a partir do momento que essas duas relações vão caminhando, Ryan percebe a vida que escolheu e o final para essa opção nem sempre é agradável.


O elenco se sai muito bem em suas atuações. Clooney está confortável encarnando um homem insensível. Vera Farmiga está brilhante como uma mulher madura e decidida, mas a surpresa vem com Anna Kendrick como Natalie. Divertida, tentando aparentar ser ambiciosa, uma atuação leve e gostosa. Por essa atuação conseguiu uma indicação ao Oscar de melhor atriz coadjuvante. Seu único trabalho anterior havia sido Crepúsculo.

Conduzido de forma brilhante pelo diretor Jason Reitman, que já havia dirigido e se consagrado com a comédia Juno, Amor sem escala vai na direção de um filme profundo e sério que tem como o único objetivo fazer uma reflexão sobre a solidão e como nos habituamos a ela.
Todo o drama tem um toque seco, frio e os cenários em que os dois estão sempre com paisagens gélidas e temperaturas baixíssimas, ajuda a compor essa ideia de frieza nesse serviço e na vida deste homem.
Mas diante de todos esses detalhes, o desfecho para essa história é o que mais impressiona. Há um vazio, uma falta, uma ligeira tristeza, enfim, há a solidão tão presente e marcante. Todos se acostumam com a solidão ou tentam conviver com ela.


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