terça-feira, 14 de junho de 2011

Medos

Uma carta lançada ao vento sobrevoou tantos metros e caiu sobre o chão de uma praça. Um jovem andava por ela e a avistou por entre a vegetação tão rala e morta devido ao forte inverno daquela estação. O dia estava acinzentado. O sol já não mais esquentava, estava lá nos céus por obrigação. O vento soprava forte, um sentimento tão triste pareava sobre aquela praça. Ele foi à direção daquela carta. A abriu com toda a delicadeza. Nela, palavras rasuradas, reescritas, manchadas. Uma escrita difícil, torta, sobre uma tinta preta declarava palavras desconexas.

Palavras, palavras. Um pequeno papel expressava tanta dor. Tanta sinceridade havia naquela carta. Tanto desejo de luta. Ele se viu envolvido com aquela dor. Ele fechou os olhos e imaginou essa pessoa. Um vento gelado veio sobre ele. Sentiu a morte passando por si. O som do vento e do nada o atemorizou. Nada, nada, nada, essa palavra jazia em seus pensamentos. Um vazio, uma escuridão. A ausência de toda ideia, todo sentimento, tudo o que poderia pensar ou não em existir.

Morrer, viver, sofrer, sentir. Verbos em ação que se conjugam com tanta facilidade e se vivem com tanta dificuldade. Morrer, esquecer, terminar um sofrimento contínuo. Viver sem medo, Sofrer por amor e pela dor, pela alegria e tristeza, pelo desejo e ressentimento. Sentir tensão e prazer, fobia e calmaria.

Presos a vida, estamos inseridos a fazer escolhas e a nos arrepender por elas. E esse sentimento é terrível, agonizante, nos confronta a cada segundo, minuto, horas, dias e anos. Se eu tivesse feito isso, por que fiz aquilo? Somos movidos por remorsos e medos de errarmos. Arrependimento que dura uma eternidade, que até nos últimos segundos de nossos suspiros se levantam contra nós. O tempo é massacrante, ele nos rouba tudo o que possuímos: nossas esperanças, sonhos, projetos e vida. Quando éramos crianças, imaginávamos o que poderíamos ser, o céus era o nosso limite, ou não. Crescemos, caímos, erramos e chegamos e não chegamos. Quando pensamos no amanhã vem o medo, pois o tempo já não é mais o mesmo. Se antes estava ao nosso favor, agora luta contra nós.

Existe uma dor que é mortal, que nos fere e simplesmente nos arranca toda vontade de viver. Sua ferida não cicatriza, mas pelo contrário, sangra constantemente sem cessar. Por mais que tentamos, ela insiste em ferir, doer e nos fazer sofrer. A desilusão da vida, a perca da esperança. Simplesmente a perca dos objetivos. A morte já é um mistério, mas talvez também um conforto.


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