quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Minha Vida sem mim

Sensível, profundo e triste. Extremamente belo.

Rir, chorar, brincar, pular, coisas tão simples e as vezes tão insignificante, ganham peso, vida e fôlego nesse filme tão terno, intenso e comovente. Sem ser piegas ou se prender a clichês, o longa mostra a vida em direção a iminente morte e como momentos bobos podem trazer tão impressionante voracidade e desejo pela vida.

Ann (Sara Polley) é uma jovem mãe de duas pequenas garotinhas, casada com um homem brincalhão, Dom (Scott Speedman) que trabalha num emprego não tão bom assim. Eles moram num trailer no jardim da casa da mãe dela, apesar da estarem próximas, Ann e sua mãe não teem uma relação muito afetiva.

Enquanto seu marido trabalha durante o dia, ela descansa, pois seu turno de trabalho é a noite, limpando os chãos de uma universidade. A vida não é fácil e ela não se sente feliz. Uma consulta ao médico devido a alguns problemas com a saude faz com que ela descubra que tem um câncer em estágio terminal e sem muitas chances de tratamento. Ann ao saber dessa notícia fica balanceada, mas resolve não tratá-lo, não quer passar os últimos dias de sua vida num hospital internada e ver sua família a vendo debilitada.

Ela guarda a doença para si e resolve fazer um balanço de sua vida e colocar numa lista um singelo número de metas que deseja realizar antes de morrer: pintar o cabelo, almoçar num especifico restaurante, pintar as unhas com cores coloridas e ter um caso. Por fim, pede para que o seu médico entregue uma série de fitas gravadas por ela ao marido, sua mãe, seu breve caso e suas filhas, explicando o motivo de não ter contado a eles sobre a doença e como ela deseja que eles continuem com suas vidas.


Com passos lentos, de forma singela e bem intimista, o longa vai nos mostrando esse caminho por qual Ann atravessa e como aos poucos ela vai realizando esses desejos.

O filme tem uma sensibilidade tão crível com cada personagem que nem mesmo a traição dela fica como algo subversivo. Lee (Marc Ruffalo), o amante, é um homem amargurado pela vida, de fala mansa e pouco diálogo. Ele se interessa por Ann, mesmo ela dizendo que os dois nunca ficarão de fato juntos. Apesar dela ser casada, a forma como essa história é guiada, faz com que torçamos por eles, mas nessa drama, a felicidade não se dá tão facilmente.

Da mesma forma, a vizinha que Ann conhece próximo ao final do filme e que ela vê como possibilidade para ser a mãe das filhas delas e esposa de seu marido quando ela não estiver mais por perto, é trágico, doloroso e tocante. Porém como ela mesmo fala a certa altura, a vida deles continuarão e tudo prosseguirá e ela se preocupa com isso.


 
A trilha sonora é soberba, a melodia que guia o filme é lenta, suave, bela e profunda, capaz de despertar uma tristeza que nos faz chorar, em falar nisso, lágrimas é o que mais se derramará nesse filme. A música que inicia o longa e é tocada em diversos momentos é realmente muito linda. A cena do supermercado é extremamente bonita, revelando o tom que o filme quer nos propor: apreciar a beleza em momentos não tão belos assim.

A fotografia gélida ajuda a manter o drama um pouco distante, deixando um certo equilíbrio na história, para não tornar o longa muito melodramático. Outro recurso usado para amenizar esse detalhe está no fato de não mostrar algumas cenas: o momento em que ela revela para Lee sobre a doença e sua vida, o momento de sua morte, a do marido e sua mãe ouvindo as fitas. Esse recurso é bem utilizado, já que o drama é intenso, a trilha é profunda e faz um contrabalanço, deixando o longa mais limpo e menos trágico.

A direção é de Isabel Coixot, essa diretora tem feito trabalhos excelentes que vão nessa mesma linha: filmes de poucas palavras, porém com muitos sentimentos. É dela também o ótimo A vida secreta das palavras. Uma diretora talentosa que sabe retirar das imagens, dos momentos silenciosos e do belo trabalho com a trilha o melhor que esses elementos podem oferecer, sem apelar para cenas clichês e melosas.

Minha vida sem mim é um belo drama sobre viver mesmo que essa seja, em alguns momentos, tão miserável. Afinal, rir, chorar, sofrer, pular e brincar são atitudes tão simples, mas que nos mostram que ainda estámos vivos, e se estamos vivos, podemos lutar, pois depois da morte não há mais nada, nem dor, alegria, receio ou arrependimento.

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