Com um filme frio e distante, O leitor tenta abordar a questão da culpa alemã sobre o Holocausto e o peso do nazismo sobre seus descendentes.
Como entender uma geração que torturou e assassinou inúmeras pessoas, crianças, jovens, adultos e velhos, tendo como motivo a superioridade. Como compreender e aceitar a culpa por esses crimes? Essa é uma questão até hoje muito complexa. Difícil para quem é de fora entender, mais emblemático para quem é de dentro.
Passado várias décadas pós Segunda Gerra Mundial, somente agora é que surgem no cinema e na literatura algumas produções e obras voltadas a esse cunho: uma geração tentando olhar para trás e compreender o que seus pais e avós cometeram ou se não, por qual motivo permaneceram em silêncio. Chegar a uma reposta é complicado, praticamente impossível, talvez o máximo que se pode obter é uma reflexão sobre como os alemães estão se sentido diante dessa culpa.
Michael Berg conhece Hanna na adolescência. Após visitá-la algumas vezes, passa a ter um relacionamento com ela. Ele vê nessa relação seu primeiro grande amor, aquela paixão que lhe devora a alma, já ela vê apenas como um caso, uma troca de prazeres. Durante a relação, conforme vão ganhando intimidade, ela pede para que ele sempre venha a ler uma história para ela. O que começa de forma esporádica torna-se num ritual, sempre da mesma forma, primeiro a leitura, depois o prazer. Assim passam todo o verão, mas simplesmente num dia Hanna desaparece e ele não a vê por muitos longos anos.
A história é divida em três partes, três momentos históricos. Nesse primeiro tempo, conhecemos a perda da inocência de Berg e como ele é sensível e emotivo, capaz de fazer de tudo por Hanna. Já ela é mais distante e quieta.
Passado algum tempo, Berg já na universidade estudando direito, se inscreve num seminário sobre a culpa nazista. Como parte do seminário, os alunos tinham que acompanhar alguns casos em que mulheres eram condenadas por participarem do campo de concentração. Dentre as acusadas estava Hanna que logo Berg reconhece. Após esse reencontro, o que se vê é a dor, raiva, ódio, medo e temor de um jovem ao ver a mulher que ele amou sendo acusada de ter cometido e participado de diversos crimes.
Num sentimento de culpa envolta de incompreensão, O leitor nos guia a diversas cenas marcantes, diálogos com peso, ousadia e enfrentamento. Uma das cenas mais interessantes do filme é em que o juiz está questionando Hanna do motivo dela ter feito o que fez e não ter tentando impedir toda aquela atrocidade. Simplesmente ela o olha e questiona: O que o senhor teria feito no meu lugar? Uma pergunta simples, mas que coloca em xeque toda a história. No final dessa parte se dá o veredito.
Hanna possui um segredo que pode absorve - lá, mas se recusa a comentá-lo. Berg logo descobre, lembrando dos momentos que passou junto dela qual é esse terrível segredo. Ele quer contar, dizer a verdade, mas se sente preso por sentimentos que vão da raiva à dor de ter sido abandonado.
Baseado na obra de Bernahard Schlink, O Leitor, nos proporciona essa análise sobre esse momento tão delicado da história. Esse longa propõe simplesmente a tentativa de compreender essa ferida que continua aberta e que dificilmente se cicatrizará.
O drama aborda de forma séria esse fato, expondo os dois lados: os das vítimas e dos acusados. Ao final, o que se vê é apenas a dor, incertezas, incompreensão e talvez um certo alivio. O personagem de Berg representa um país tentando rever seu passado, tentando compreender os próprios atos, erros e motivos
A fotografia do longa ajuda o drama a manter esse clima gélido no ar, assim como a trilha sonora e a direção que é segura e seca. No mais, é um drama conciso, seco e sem sentimentos ou calor humano. Na tela, apenas vemos e observamos, mas nunca conseguindo compreender o que os personagens realmente sentem, pensam ou desejam. Dor e arrependimento caminham lado a lado.
Indicado ao Oscar de melhor filme e vencendo na categoria de melhor atriz para Kate Winslet numa atuação marcante em que ela conseguiu trazer humanidade a uma personagem tão gélida, o filme retrata um assunto que provavelmente terá novas histórias levadas ao cinema.
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