sexta-feira, 22 de abril de 2011

A sete palmos


A morte é algo que por mais que tentamos, ainda sim, não aceitamos e não compreendemos. O que fazer, sentir ou temer? Dor, alegria, desejos, medos e perdas. Esses são os sentimentos que moverão os personagens de uma série que foi uma das mais aclamadas pela crítica e público. Criação de Allam Ball, ganhador do Oscar de melhor roteiro original pelo ótimo “Beleza Americana”, “A sete palmos” conta a história de uma família desunida que tem como negócio a morte, ou seja, eles são especializados em realizar os rituais fúnebres. Preparar corpos, negociar flores, caixões e toda burocracia ligada a morte. Dizem eles, a função da empresa é tirar do peso da família esse serviço, nesse momento tão doloroso ou na visão mais crua, ganhar a vida num momento tão delicado da vida das pessoas.  Com cinco temporadas produzidas e tendo cada uma treze episódios, a série conseguiu expressar a complexidade da vida.
Na primeira temporada conhecemos os personagens que compõem essa família e a série. Ruth, a mãe, é uma dona de casa que tenta guiar a família que é complicada. Extremamente sentimental, cobra dos filhos união, mas vê que não é nada fácil. Durante a temporada, descobrimos que ela possuía um caso com outro homem e mantinha essa relação já há anos.  Claire, a filha mais nova, é direta e não poupa palavras quando quer ferir alguém, está dando uma de rebelde, a maior reclamação da garota é que sua família não é como as outras. Ela bebe, fuma e no decorrer da temporada se envolverá com um rapaz nada fácil também.




David é o mais responsável, ou pelo menos tentar ser, esconde de todos que é homossexual e tem um namorado. Tenta levar os negócios da família, mas quando o pai falece se vê traído por ele quando descobre no testamento que a empresa vai ser dividida entre ele e o irmão mai velho, Nate que quando jovem havia saído de casa para tentar a vida, desrespeitando as ordens do pai. Ele volta à cidade para um encontro familiar, mas acaba ficando quando o pai morre. Se vê na obrigação de ajudar o irmão a tocar a empresa. Nate se relaciona com Brenda, uma mulher meio que misteriosa, porém que com o passar dos episódios descobrimos ser meio depressiva, cética e com uma família ainda mais problemática. O irmão dela, Jeremy, tem problemas mentais e depressivos e coloca sobre ela todo fardo de ter a obrigação de cuidar dele.
Ainda na empresa trabalha Federico Diaz, imigrante, aprendeu com o pai dos garotos tudo da profissão. Sabe como ninguém restaurar um corpo. Por não ser respeitado pelos irmãos como deveria ser e ser assediado por outra empresa constantemente, deixará a empresa da família.
Um ponto interessante a colocar é que no episodio piloto foram apresentados alguns produtos específicos ligados a morte, caracterizando bem o lado capitalista que a série queria propor, ou melhor, como a série iria mostrar como somos capazes de mercantilizar ações, momentos, pessoas ou como todos podem estar a venda. Outro elemento usado ao longo da temporada que deu muito certo é que cada pessoa que morria no inicio dos episódios permanecia ao longo dele, sendo assim, uma forma de mostrar um pouco mais sobre essa pessoa que morreu e dela dialogar com os personagens da série, os questionando e guiando em suas escolhas.



Com um tom delicado, temas fortes foram apresentados: religião, homossexualismo, morte, vida, adultério. O irmão que é gay passa a ser um conselheiro na igreja para agradar a mãe e também atrair mais clientes. A morte é debatida a todo momento, a morte do próprio pai os faz pensar nesse momento em que todos temos que passar. A abertura do seriado é bela, com uma fotografia envelhecida, meio gótica, imagens de objetos de cemitério e ao som de uma trilha sonora extraordinária.
No segundo ano, todos os dramas apresentados na primeira temporada foram intensificados, Nate, após um acidente de carro, descobre que tem uma grave doença que o poderá matá-lo a qualquer instante, por esse motivo, ele começa a rever tudo em sua vida, desde o que passou até pelo o que está passando. Porém, ele tenta esconder esse segredo de todos, mas não será nada fácil, sendo que aos poucos ele revelará essa verdade, a última a saber desse fato será Ruth. Brenda entrará num profundo abismo sem explicação, sentirá atração e desejos sexuais por diversos homens a ponto de começá-los a colocar em prática, provocando serias brigas e um rompimento com Nate, que a essa altura havia a pedido em casamento.  


David tentará encontrar uma nova pessoa em sua vida, mas as lembranças de seu antigo namorado permanecerão, até que se entenderão, mas ainda sim continuarão a brigar. Claire tentará levar um normal, longe de antigo namorado, até que a presença de sua tia a influenciará a guiar outros caminhos. Jeremy volta a série, agora mais sóbrio, será um bom amigo, conselheiro e uma pessoa muito próximo dela. Um personagem interessante que irá ganhar mais presença, porém sairá ao final da temporada é o conselheiro da escola que ajuda Claire com seus problemas. Nessa temporada, Patricia Clarkson faz uma participação especial, como a irmã de Ruth, uma mulher que é o oposto de sua irmã, liberal, nada consumista, super zen.
A série nessa segunda temporada continuou apresentando ótimos episódios, boas histórias, personagens densos e interessantes. O enredo que moveu o personagem de uma mulher que após sofrer um acidente e morrer, mostrou a questão da solidão de forma extremamente contida e bela. Foi com roteiros como esses que o seriado abordou temas tão delicados e difíceis. Questões como traição, homossexualismo e preconceitos também voltaram ao centro da trama, lado a lado com a questão da morte e como ela é algo que está tão perto e tão distante de nós ao mesmo tempo. Um drama contundente, um seriado soberbo.






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