sexta-feira, 1 de abril de 2011

A redoma de vidro

Lançado na década de sessenta, a obra retrata a vida da jovem Esther Greenwood. Promissora na carreira em que segue, após finalizar um estágio numa importante revista de moda, volta para a cidade natal. A não aceitação num curso de literatura desencadeará em Esther uma série de sentimentos, dúvidas e depressão já existentes, mas que somente agora despertam em escala maior, levando a jovem a pensar em diversas maneiras de cometer um suicídio e a colocar em prática um. Passando quase pela morte, sendo internada numa clínica psiquiátrica e se considerando louca, ela vai chegar ao mais profundo abismo.

Escrita de forma não linear, a história segue a linha dos pensamentos da jovem. Ela descreve o dia que esteve na agência e subitamente pensa ou lembra-se de algo na infância e passa então a contá-lo. Dessa maneira, seremos apresentados a um pai ausente que morreu cedo, a uma mãe protetora e meio neurótica que teima em ensiná-la taquigrafia e uma jovem, no caso ela, inteligente e arrogante aos extremos. Mas não há apenas esses personagens, a história trará outros que também terão grande importância na vida dessa jovem.

A escrita da autora Sylvia Plath lembra muito a de outra autora, Virginia Woolf. Uma escrita liberal e livre das prisões da narração correta e linear com o começo, meio e fim perceptíveis. Nesse drama passado e presente se entrelaçam, ora estamos acompanhando Esther quando criança, ora trafegando pelas suas memórias. Outro ponto interessante da obra é que a autora declara seus pensamentos de um jeito tão natural, que ao ler, você realmente se questiona se ela está levando a sério algo em sua vida. No decorrer do drama, ela comenta tentativas de suicídios que falharam, mas isso com tanta naturalidade que chega a assombrar. É por meio dessa irreverência na escrita que percebemos a sua dor. É uma angustia presente, mas disfarçada. Os problemas pelo qual Esther passa ou sente são complexos. Uma depressão marcada pelas dúvidas. Como ela mesma descreve em certa altura do livro, ela se sente presa numa redoma de vidro vazia e sem vida, sem ter a quem pedir socorro.

Umas das passagens mais interessante do livro, que com certeza é mais lembrada dessa autora e que está presente nessa obra é quando Esther descreve sua vida como uma grande e bela figueira cheia de frutos, sendo que cada fruto significaria um sonho, escolher um seria negar a todos. Devido a isso, a essa incerteza, conforme a narração, ela ficou ali diante da árvore com fome parada sem reação e a medida que o tempo ia passando, um a um dos frutos iam caindo, apodrecendo e morrendo e a ela ainda permanecia a dúvida sobre qual escolher. Esse trecho simplesmente sintetiza toda a história da obra. Uma passagem extremamente bela, contundente, metafórica, rica e dotada de uma complexidade incrível.

A dor presente na vida de Esther é algo que simplesmente não compreendemos, tentamos entender, mas infelizmente, esse sentimento está presente sem explicação. Uma profunda depressão enraizada nos mais profundo do interior dela. Em todos os momentos, ela se questiona de sua felicidade, do que se pode fazer, do que tem e de quais são seus atributos, há a solidão em sua vida. Não há como não perceber uma forte depressão quando ela afirma que não terá com que se preocupar ao que irá fazer aos finais de semana, pois já está namorando.

Uma obra inquietante que analisa de certa forma nossos medos também, pois nossa protagonista é uma garota comum, com um futuro brilhante, mas que devido a fatores da vida, cai num abismo sem fim. Suas dores são comuns, seus questionamentos são sensatos e o mais bacana desse drama é que ela não possui todas as qualidades positivas de uma heroína, de uma protagonista de uma obra, pelo contrário, em certos momentos, ela chega a ser insuportável, como todos nós em alguns instantes de nossa existência.

Segundo pesquisadores da autora, muitos acontecimentos do livro são autobiográficos da própria autora. Assim como Esther, Sylvia teve diversas crises depressivas e só conheceu a fama e o reconhecimento literário que desejava após a morte. Ela suicidou-se numa manhã gelada de fevereiro do ano 1963 inspirando gás na cozinha de sua residência em Londres. Há conversações para se adaptar essa obra para o cinema, os direitos sobre o livro foram adquiridos pela atriz Julia Stile, mas ainda está em fase de produção do roteiro e de outras burocracias ligadas ao cinema.

“A redoma de vidro” é um livro sensível e instigante. Uma leitura não muito fácil, porém muito gostosa e prazerosa dessa que foi uma das grandes escritoras inglesas do século XX    
 

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