O Retrato de Dorian Gray, nova adaptação da obra clássica do escritor Oscar Wilde, conta a história de Gray, jovem que chega à Londres para assumir a herança do tio. Dotado de uma beleza descomunal, ele torna-se modelo para o pintor Basilo e amigo de Lord Wotton, um homem rico que possui um único objetivo em vida: viver todos os prazeres que ela possui. Convivendo com esses dois homens, ele descobrirá um outro lado da vida que até aquele momento desconhecia.
Basilo terá uma louca obsessão pela sua beleza e pintará um quadro que irá conseguir retratar toda a pureza e juventude de Gray. Esse quadro mais a obsessão de Basilo por ele fará com que Dorian perceba o quanto é belo e admirado por todos. Já a forte amizade e os conselhos nada virtuosos de Wotton despertarão nele uma busca incontrolável por prazer, sejam esses acessíveis ou não, o levando a desejar que todos os pecados de sua alma, assim como as marcas do tempo, fiquem presos na pintura e a ele, seja permanecida a beleza e juventude eterna. Realizado esse pedido e compreendido o que aconteceu, Gray cometerá os pecados, crimes e práticas nunca antes sonhadas, fazendo com que ele crie uma fascinação doentia pelo quadro. Como forma de afronta, ele fará de tudo para tentar deixar a pintura a mais perturbadora possível, já que ele não é acometido pelos seus pecados.
A história de Wilde já foi levada ao cinema diversas vezes, muitas são suas adaptações, como apenas vi a essa, não poderia dizer qual é mais interessante e fiel a obra. Nesse longa, há pontos positivos e negativos quanto a fidelidade ao livro. Alguns elementos são retirados, outros são expostos, outros inseridos e personalidades são modificadas com o decorrer do drama.
O filme tenta se apegar ao terror, mas não consegue obter essa premissa. Devido a alguns elementos como a fotografia e a trilha sonora, o longa caminha entre o drama de um homem que se vê preso a um pedido que com o decorrer dos anos mostra-se como maldição, e o suspense, de um jovem que fará de tudo para guardar esse segredo e será assombrando pelos seus pecados.
Em comparação com a obra, alguns elementos foram atenuados, como o envolvimento dele com a jovem Siby. A forma como se dá a separação entre eles soa mais convincente no filme do que na obra. O momento em que Gray declara seu desejo vendendo sua alma, fica mais clara e nítida no longa, isso por meio da trilha que entra no momento e a imagem focada em seu rosto, ponto de fundo o quadro. Na obra, essa passagem acontece de uma forma quase indireta e imperceptível. A obsessão de Basilo pela beleza de Gray e seu desejo de tê-lo é mostrada com mais clareza, o que era lançado subjetivamente no livro, no filme ganha contornos mais reais e por fim, o personagem de Colin ganha mais destaque, importância e presença ao final da trama.
Essas mudanças conseguem dar mais densidade a obra. O caminho pelo qual Dorian atravessa é muito bem trabalhado e mostrado. Se no livro usávamos a imaginação, aqui o diretor não poupa imagens para retratar um jovem sem escrúpulos ou represálias às questões da moralidade. Mas como na vida tudo tem um preço, o dele será cobrado, sua reputação e sua alma ficarão fortemente marcadas.
O longa possui uma fotografia muito bacana, as paisagens são frias e escuras, com cores sempre ligadas ao cinza, preto e azul escuro. A forma como a Inglaterra é demonstrada pela vida boêmia com seus bares e tabernas é também um ponto positivo. O tom gótico também está presente. A trilha sonora tentado deixar o clima mais sombrio não chega a destoar a película, seu uso é correto, nada inovador, apenas correto. O elenco está muito bem. O único ponto fraco seria mesmo Bem Barnes como Dorian Gray, no começo do filme, sua atuação soa meio falsa, a pose que ele tenta criar de bom e ingênuo moço não convence. Somente no meio do filme, em que o personagem revela seu lado perverso é que o ator fica mais confortável no papel, dando mais veracidade a atuação. Colin Firth está muito bem em seu papel e Rececca Hall é um dos destaques, uma excelente atriz, gostei muita dela no Vick Cristina Barcelona e aqui ela está também formidável.
A direção é boa e o roteiro bem construído. As mudanças em relação ao livro conseguem dar mais agilidade e consistência ao drama. A única fraqueza na história seria com relação a ideia que o longa tentar impor para supor como era conturbada a relação de Gray com seu tio, mas nada que estrague a obra como um todo. Dorian Gray é um filme que consegue colocar a questão dos prazeres e da putrefação da alma com relação aos nossos atos de forma bem metaforizada e instigante. Nem toda beleza é verdadeiramente bela.
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