“Qual é o tamanho de uma alma?”
A história que gira em torno desse filme é forte, intensa e comovente. Simone (Morgana Davies), uma garota com seus oito anos, leva uma vida normal com sua família, até que uma tragédia acontece> seu pai morre repentinamente diante dos seus olhos.
O que poderia ser a ruína para essa garota, torna-se algo que não ganha tanta importância, pois aos olhos dela, o espírito de seu pai ainda continua perto dela, agora habitando dentro de uma grande figueira do jardim de sua casa.
Dawn (Charlotte Gainsbourg), a mãe de Simone, sente o peso da morte do marido. Após o enterro se afunda num luto sem fim. Não consegue receber visitas em casa e nem tem forças para levantar da cama. Seu filho mais velho, Tim (Christian Byers), tenta ocupar o lugar do pai como homem da casa: estabelece ordem entre os irmãos, tenta procurar um emprego e cobra de sua mãe simples tarefas.
Quantos aos outros pequenos, vão vivendo da maneira que podem, mas todos da família estranham a normalidade de Simone e sua estranha ligação com a árvore até que ela revela a todos o motivo para tal conforto.
O que é mais interessante nesse momento do drama é que apesar dessa história não ser real e tanto a mãe, quanto o irmão mais velho de Simone saberem que ela apenas criou essa ideia para conseguir suportar a perda do pai, todos brincam e tentam acreditar que isso possa realmente ser verdade.
Apesar de fatos estranhos acontecerem à família envolvendo essa figueira, todos sabem que isso não é real, mas ainda eles têm fé que de uma maneira, o espírito desse pai/marido ainda esteja perto deles.
A vida continua e toda família tenta seguir adiante, menos Simone. Dawn fica presa numa balança, guiada pela dor, não quer esquecer o passado, porém ao se relacionar com um novo homem, tentará construir um novo caminho. Porém Simone não aceita essa nova relação da mãe. Mesmo tendo passado meses após a morte do pai, ela sente e acha que sua mãe o está traindo. A própria Dawn fica apreensiva em continuar com essa relação, pois ainda sente-se presa ao falecido marido.
Para piorar a situação, a figueira começa a apresentar graves problemas que passam a prejudicar os vizinhos e até a própria casa da família, mas a insistência de Dawn em deixar a árvore como está apenas aumenta o imaginário que Simone projetou sobre a figueira.
Com um drama profundo, a diretora Julie Bertucelli (Desde que Otar partiu )entrega um longa muito terno em seus sentimentos. Em nenhum momento do filme há provas de fato que isso possa estar realmente acontecendo. Nada fica claro, mas o modo como a câmera foca na árvore, a trilha que ganha peso nas horas em que Simone conversa com seu pai, ou melhor, a figueira, dão a entender que a diretora quer que acreditemos na visão ingênua dessa garotinha. Porém, no fundo ainda temos conhecimento de que a verdade está presente e essa é dura e dolorosa.
A perda é algo irreparável, a confrontamos de modos distintos, ou às vezes, fugimos dela, nos acovardamos ou apenas, criamos mundos, ideias ou situações irreais para que assim possamos continuar com a vida. Simone está passando por esse momento, a ideia desenvolvida pela pequena sempre se dá por meio de indiretas: é o vento que balança os galhos da figueira, são as raízes que sobem a superfície, é um tronco que cai sobre o quarto de Dawn, mas tudo isso diante de uma explicação racional.
Do mesmo modo que a diretora propõe que venhamos a acreditar nessa história, ela quer que não esqueçamos o ponto em que ilusão e verdade devem se separar. Tanto a realidade quanto a imaginação são importantes para nós, pois cada uma ao seu tempo é imprescindível para o nosso crescimento. Assim como a imaginação nos dá forças, a verdade nos move e essa virá sobre a vida de Simone, com ela aceitando ou não o fato sobre a morte de seu pai.
Com delicadeza “A árvore” nos mostra como o luto pode ser doloroso, mas vivê-lo é um modo de seguirmos adiante. Sentir a dor e a perda e chorar pelos que se foram faz parte da vida. A imaginação e a ilusão podem até nos dar uma sensação de conforto, mas elas não mudarão a verdade ao qual nós estamos inseridos.
No elenco, Charlotte Gainsbourg brilha como Daw, assim como Morgana Davies na pele dessa garotinha tão imaginativa e meiga. O filme possui uma bela fotografia com cores quentes e secas. A trilha é envolvente e a direção é segura e de certa forma um pouco distante dos acontecimentos. Enfim, um filme terno e belo.
Assisti o filme, apesar de ter sido simples e aparentemente facil de filmar, renderam fortes emoções pois a temática ficou entre um sentimento de perda -da familia toda- mas uma tentativa de tocar a vida pra frente.
ResponderExcluirE sobre a figueira cria-se uma ilusão ou seria uma realidade? não importa a questão é que a imaginação flui com naturalidade.