domingo, 10 de julho de 2011

O quarto do filho: um momento para a dor

A morte é algo irreparável. Nos deparamos com ela de maneiras distintas. Cada um, ao seu modo, tenta superá-la. É sobre esse assunto que o longa O quarto do filho trata

Com uma história simples, somos apresentados a uma família como qualquer outra. Como todas, eles também possuem problemas, às vezes, uma falta de comunicação, atenção ou afeição, mas ainda são unidos.

Giovanni, o pai, trabalha num escritório dentro de casa como psicanalista. Lá, seu trabalho é ouvir e tentar orientar os pacientes que lhe aparecem com os mais diversos problemas. Nesses pacientes, percebemos que todos apenas desejam ser ouvidos, desejam falar das coisas mais simples, como o que fizeram no seu dia, à assuntos mais complexos, como o desejo da morte ou problemas sexuais. A função dele é ouvir e é isso que ele faz, mas o trabalho lhe rouba tempo, muito tempo. 

Paola, a mãe, trabalha fora como editora. Divide a agenda do dia ainda como mãe e os afazeres domésticos. A filha mais nova é séria e decidida, um pouco distante, parecendo não precisar da atenção ou carinho dos pais e possui um namorado ainda mais estranho. Por fim, Andreas, o filho, é sensível e distante.

O filme começa com o pai indo ao colégio para conversar com o diretor sobre algo que o filho fez. No caso, um fóssil foi roubado do laboratório e acusaram Andreas do crime. Ele nega, depois descobrem que o garoto que o acusou havia mentido, mas o fato dele ter roubado era verdade. Apos isso, Giovanni acha que tem de passar mais tempo com o filho.

É nesse momento que acontece uma tragédia levando Andreas a morte . O que vemos depois é a quase degradação de uma família. Cada um sofre essa perda. A mãe se lança em lágrimas. O pai tenta manter o trabalho e a filha tenta se manter forte. Todos tentam se manterem vivos, mas na verdade estão se desmoronando.

Sensibilidade, ternura, graciosidade, é com essas características que o diretor vai guiar esse filme. Um drama onde as lágrimas estão sempre presentes, em cenas em que sua presença é mais do que real e nada forçado.


Todos os personagens tentam encontrar um culpado para tal fato, mas nada falam sobre isso. Todas as dores e amarguras são interiores, nada é expresso, apenas a certeza da perda, a certeza de que algo está faltando. Em certos momentos, Giovanni tem pensamentos que se constroem em sua imaginação ilustrando como seria se isso não tivesse acontecido, se tal paciente não tivesse ligado. O remorso e a incapacidade de retroceder o tempo o martiriza.

Com uma história sensível sobre perda e culpa, uma trilha sonora sempre presente, uma bela canção ao final do filme, ótimas atuações, singelas e constantes e uma direção segura que não deixa o filme cair em nenhum momento no melodrama, o filme consegue nos mostrar como a dor e a morte podem ser difíceis de serem aceitas. O longa se sustenta pela sua simplicidade, seja em sua história ou no seu roteiro. Não é algo para ser ter um fim, mas para tentar ser superado.

O quarto do filho levou a Palma de Ouro em Cannes, mas foi pouco comentado e divulgado no Brasil. Uma pena, pois é uma pequena jóia que nos mostra os valores familiares numa sociedade marcada pelo individualismo.

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