A vida é muita vezes injusta. A dor está ao nosso derredor de todos os modos, da mesma forma que a morte, o medo, a sensação de fraqueza e a limitação também. O que podemos fazer diante de tal fato? Apenas aceitar e continuar respirando, continuar com os sofrimentos, com os dias e as noites. O que vem após a morte é uma incógnita, porém mesmo diante dessa incerteza, ainda cremos que se há vida lá do outro lado, essa possa contornar a dessa, é nisso que nos confortamos e, de certa forma, esperamos. É nesse aspecto que a quarta temporada de True Blood se concentra.
O quarto ano mostrou-se superior a terceira temporada em vários aspectos. Com histórias mais costuradas, uma maior interligação entre as tramas paralelas e o melhor desenvolvimento de alguns personagens. A batalha final, como de costume no seriado, foi o fraco da temporada. Poderia ter havido um maior confronto e tensão entre as bruxas e os vampiros, mas tudo se resolveu muito rápido.
Após Sookie descobrir a verdade sobre Bill, ela o expulsa de sua vida. Segue amargurada para o cemitério, único lugar de descanso para ela, pois nesse local, ela não pode ouvir as vozes dos que estão a sua volta e pode ficar mais perto de sua avó. Nesse momento surge Claudine e a leva embora, para um outro lugar onde ela poderá se sentir mais em casa e protegida. O terceiro ano acaba aí. É nesse exato instante que começa a quarta temporada.
O mundo das fadas proposto por Ball lembra muito o do filme “Sonhos de uma noite de verão”. Um cenário meio tosco, uma luz clara e forte, envolta de uma árvore meio antiga e rústica. Lá estão varias pessoas que assim como ela, têm a capacidade de lerem mentes e dentre essas está o seu avô. Só que nesse local, nem toda a beleza é de fato bela, ou nem todo paraíso é de fato um verdadeiro paraíso. Esse refúgio das fadas guarda um tom sombrio e quando ela percebe em que terreno está pisando, Sookie tenta fugir com seu avô, que estava nesse reino há anos. Após esse primeiro confronto com uma possível vilã, ela consegue retornar para a sua casa. Ao voltar, é pega pela informação que se passaram 18 meses desde que ela deixou Bom Temps e nesse meio tempo, muita coisas haviam mudado.
Após essa informação, vamos vendo como está casa personagem pós um ano praticamente, alguns mudaram outros nem tanto. Arlene fica cada vez mais aflita com relação ao seu filho, achando que ele possa ser algo perigoso. Jess e Royt lidam com a difícil tarefa de viver um casamento. Sam conhece um grupo de metamorfos e com eles passa a descontrolar a sua raiva. Seu irmão é acolhido por Maxine como filho e tenta manter a pose de bom moço. Jason adquire mais responsabilidade ao tomar conta da tribo dos homens-panteras.
Tara passa a viver em Nova Orleans, começa a se relacionar com uma outra garota e ganha a vida em torneios de luta livre e seu primo, Lafayte junto de Jesus, vão tentar entender a razão dos seus poderes. A mudança mais radical fica por conta de Bill, que após o confronto com a rainha, consegue eliminá-la e torna-se mais novo Rei do pedaço, ficando acima de Erick, esse que por sua vez já declarou seu amor por Sookie e espera o retorno dela. Ainda nos primeiros episódios somos apresentados em passos lentos às bruxas e, pouco a pouco, vamos vendo como elas dominarão a temporada.
Algumas tramas foram encerradas ainda no começo da temporada, como é o caso do Jason, sua louca paixão por Cristal e sua relação com a tribo da garota. Os pais de Sam deixam a temporada, mas antes provocam mais tensão na trama, colocando em ápice um personagem que já estava meio apagado. Com Tommy sendo o responsável pela morte deles, uma nova mitologia adentra o universo de True Blood. Essa ideia rendeu bons momentos e também selando a participação desse personagem no seriado ao estilho mais intenso e trágico possível. Eu, particularmente, gostei muito do modo como sua história foi encerrada na série.
O filho de Arlene que até a última temporada dava contornos que seria algo macabro revelou outra coisa completamente diferente. Está certo que Ball frustrou as perspectivas de praticamente todos diante desse baby, mas não pode-se negar o tom leve, suave e sensível proposto pela história. O que move essa quarta temporada é a nossa incapacidade de mudarmos as condições de nossas vidas e como isso nos fere e essa personagem que interage com essa criança representa fielmente isso. O arco abordado envolvendo essa louca família interligou com o drama de Lafayate, fechando assim as histórias e promovendo uma união entre os diversos núcleos. Da mesma forma que o terreno envolvendo Jessica, Hoyte e Tara foram se convertendo para o eixo principal: bruxas.
As bruxas são humanos que possuem uma certa sensibilidade para com os elementos sobrenaturais. Odiadas pelos vampiros, devido a um fato do passado, elas buscam vingança. Antônia, a vila desta temporada, possuiu o corpo de Marmie para que ela pudesse se vingar dos vampiros, já que estes abusaram dela e de outras como ela em tempos antigos. Por elas serem figuras muito poderosas, capazes de até dominarem esses seres da noite, o confronto entre eles renderam boas batalhas.
Um dos elementos que chamaram a atenção desse quarto ano foi a perda da memória de Erick. Após confrontar Marmie, ele perde todas as suas lembranças e Sookie passa a protegê-lo. Essa ligação foi um dos fatos mais bacanas. Já havia entre eles uma certa química e tensão, com esse novo elemento, a fadinha pôde conhecer um outro lado desse vampiro sanguinário, se rendendo aos prazeres carnais com ele. Além desse ponto, vários foram os outros elementos que deram fôlego a essa série, como a mudança mais do que bem vinda de Tara e sua aproximação com as artes de bruxaria. A personagem de Holly ganhou mais destaque e conjuntamente de Sookie e Tara deram um ponto final a todo esse lance de espíritos e feitiços.
Episódios bons foram vários, destaque para o que abre a temporada, o oitavo e os três que encerram o ano. Como de costume e dando a entender como uma característica da série, toda a trama se desenvolveu no penúltimo episódio, com apenas uma extensão de poucos minutos no episódio final. Mas toda sesalon finale foi usada para apresentar novos temas e assuntos que serão abordados na temporada seguinte.
O episódio final lembrou muito outra série trabalha por Ball, A sete palmos. A morte esteve constantemente ligada a todos os personagens da série de uma forma muito terna e delicada. Seja na aceitação da vida por meio da personagem de Marmie, no retorno dos espíritos ou na relação final entre Lafayate e Jeses que ao meu ver foi a mais terna.
“Continue respirando”.
Sem dúvida essa foi a trama que mais me chamou a atenção, tanto pela naturalidade como abordaram o homossexualismo, sem esquecer do preconceito em torno deste tema, quanto pela questão da morte enquanto vida. Lafayate resume o tema principal desse ano, a dor está em suas mãos, em seus olhos. O que fazer quando não há mais motivo para se viver, quando há a sensação de que a vida e o destino foram injustos e amargos com você? Nada, não se pode fazer nada, apenas continuar respirando e deixar com que a raiva se amenize para que um dia ela torne-se suportável. Não podemos mudar os traços e escolhas de nossas vidas, não podemos controlar o nosso destino, podemos apenas aceitar a vida, a morte, a dor e apenas continuar, simplesmente continuar.
Umas das críticas feitas a série é que nela haviam muitos personagens que estavam dispersos da trama principal e isso ficou muito claro na terceira temporada, sendo um recurso que não deu muito certo. Já nesse quarto ano, houve uma maior conexão entre os núcleos da série. Outro ponto positivo foi o massacre ocorrido nesse quarto ano, ao todo oito personagens tiveram suas vidas ceifadas.
True Blood está caminhando para seu quinto ano. Ao meu ver, a série já está chegando naquele momento em que se deve pensar num final para ela. Está certo de que os livros das quais ela é baseada tem mais de oito publicações, mas elas são duas obras distintas, uma é literatura e outra cinema.
Allam Ball já deu algumas entrevistas de que não pensaria na série ultrapassando sete anos, pois aos seus olhos, não seria interessante e além do mais, os atores envelhecem e como isso faria sentido aos vampiros que são eternamente jovens. True Blood ainda continua intensa e ótima, mas seu final já tem que ser pensando e suas tramas fechadas. Muitas séries provaram da longevidade e não deram muito certo, mesmo tendo ótimos arcos e um excelente argumento e roteiro, pois o fim chega e não há como negar isso.
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