O drama O despertar da adolescência, (ou como sugere o título original O garoto Mudge), apesar de seus bons clichês e algumas cenas desnecessárias, consegue ser um filme cativante e sensível. Tendo como protagonista o ator Emile Hirsch em início de carreira, o longa caminha mostrando a vida de um garoto que ainda está em fase de descobertas, ao mesmo tempo em que é confrontado pela perda da mãe que morrera recentemente.
Duncan Mudge (Emile Hirsch) é um garoto tímido. Sua relação com o pai é extremamente fria. A mãe faleceu a pouco tempo, quando nós não sabemos, mas os dois ainda estão em profundo luto. O pai, Edgar (Richard Jenkins) tenta suportar a dor mantendo-se em silêncio, sempre sozinho, sempre distante. Não sabe como criar o filho e não consegue ser afetivo para com ele. Mesmo quando o momento pede ele usa de palavras ásperas.
Já Duncan é fechado e sem amigos. É dito por muitos como um garoto anormal, já que caminha por toda cidade junto de uma galinha que ele trata com muito apego. Tem o hábito desaprovado do pai de vestir as roupas da mãe. Edgar, vendo esses atos, não sabe o que fazer e o rapaz, de certa forma, ultrapassa os limites da compreensão. Num certo dia passa a conversar com Perry (Tom Guiry), após esse primeiro encontro, os dois mantém um singelo laço de amizade. O jovem o acha estranho e ele é sincero com Duncan sobre esse fato. Quando os dois saem juntos com os seus outros amigos, Perry meio que o protege, pois sabe que o garoto é frágil e motivo de piada.
Tudo segue normal, porém algumas mudanças vão acontecendo. Duncan meio que desenvolve por Perry uma atração, talvez motivada pela admiração ou não, mas desenvolve. O rapaz por sua vez, percebe esse detalhe numa ação dele, o recrimina com um movimento brusco num instante, mas vendo que foi muito duro, leva como brincadeira e descontração. Mas podemos perceber pouco a pouco, pelo olhar de Perry em Duncan, um outro desejo, que vai além da proteção até que o ato de fato acontece. Após o acometido, temos as consequências e o final dessa história.
O que vemos nesse filme e que o diretor soube abordar com cautela é a questão das descobertas e o medo de aceitá-las, é do confronto da dor e do passado. Duncan é sensível, meigo e frágil e sua obsessão em vestir as roupas de sua falecida mãe entra como uma forma, talvez, de refúgio. O pai sabe que ele precisa enfrentar essa realidade e o fato de sua mãe ter morrido, mas não sabe como se comportar como um pai diante dele, sem ser autoritário ou rude. O próprio rapaz se depara com dúvidas sobre sua sexualidade, sobre seus sentimentos, mas ao desfecho o que vemos é aceitação e uma confrontação de Duncan diante dos seus medos e a cena final metaforiza isso de forma espetacular. Seu animal de estimação representa essa inocência e ingenuidade que é devorada por ele. Se o nosso protagonista passa por esse momento de aceitação, Perry é o de negação, tanto das certezas, quanto das dúvidas.
O drama tem algumas cenas desnecessárias, como a do carro em que Duncan deseja impertinentemente buscar o chapéu que caiu na estrada ou a da garota que sente ciumes do Perry com sua amiga, já que ela também ficou com ele e pensa que entre os dois poderia ter algo a mais do que apenas sexo. Mas outras são também muito tocantes e fortes, entre elas as que estão próximas do final.
Emile Hirsch, com esse longa, mostra desempenho e ousadia por participar de um filme em que há forte conotação homossexual e várias são as cenas com esse quesito: a do estupro com ele vestido de noiva é uma dessas, assim como do carro entre os dois é também muito terna e forte. Ali há tantas dúvidas, medos, desejos e receios e o momento em que ele se afirma para Perry e seus amigos é outro ponto interessante.
Esse é um drama simples, com uma boa direção e uma trilha sonora adequada. O que me surpreendeu nesse longa mesmo foi mesmo o seu desfecho. Talvez tenha sido de forma brusca, mas ainda sim interessante, pois fica aquele desejo de entender e saber o que aconteceu aos seus personagens depois disso. Um longa um pouco antigo, é do ano de 2003, e que dificilmente temos acesso com facilidade, porém muito bacana.
Simplesmente adoro esse filme!
ResponderExcluirÉ aquele tipo de filme que termina e, primeiro, você quer mais e, segundo, você fica por horas pensando nele. Meu peito dói quando eu penso nele....
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