quinta-feira, 3 de novembro de 2011

O despertar da Adolescência



O drama O despertar da adolescência, (ou como sugere o título original O garoto Mudge), apesar de seus bons clichês e algumas cenas desnecessárias, consegue ser um filme cativante e sensível. Tendo como protagonista o ator Emile Hirsch em início de carreira, o longa caminha mostrando a vida de um garoto que ainda está em fase de descobertas, ao mesmo tempo em que é confrontado pela perda da mãe que morrera recentemente.

Duncan Mudge (Emile Hirsch) é um garoto tímido. Sua relação com o pai é extremamente fria. A mãe faleceu a pouco tempo, quando nós não sabemos, mas os dois ainda estão em profundo luto. O pai, Edgar (Richard Jenkins) tenta suportar a dor mantendo-se em silêncio, sempre sozinho, sempre distante. Não sabe como criar o filho e não consegue ser afetivo para com ele. Mesmo quando o momento pede ele usa de palavras ásperas.

Já Duncan é fechado e sem amigos. É dito por muitos como um garoto anormal, já que caminha por toda cidade junto de uma galinha que ele trata com muito apego. Tem o hábito desaprovado do pai de vestir as roupas da mãe. Edgar, vendo esses atos, não sabe o que fazer e o rapaz, de certa forma, ultrapassa os limites da compreensão. Num certo dia passa a conversar com Perry (Tom Guiry), após esse primeiro encontro, os dois mantém um singelo laço de amizade. O jovem o acha estranho e ele é sincero com Duncan sobre esse fato. Quando os dois saem juntos com os seus outros amigos, Perry meio que o protege, pois sabe que o garoto é frágil e motivo de piada.



Tudo segue normal, porém algumas mudanças vão acontecendo. Duncan meio que desenvolve por Perry uma atração, talvez motivada pela admiração ou não, mas desenvolve. O rapaz por sua vez, percebe esse detalhe numa ação dele, o recrimina com um movimento brusco num instante, mas vendo que foi muito duro, leva como brincadeira e descontração. Mas podemos perceber pouco a pouco, pelo olhar de Perry em Duncan, um outro desejo, que vai além da proteção até que o ato de fato acontece. Após o acometido, temos as consequências e o final dessa história.

O que vemos nesse filme e que o diretor soube abordar com cautela é a questão das descobertas e o medo de aceitá-las, é do confronto da dor e do passado. Duncan é sensível, meigo e frágil e sua obsessão em vestir as roupas de sua falecida mãe entra como uma forma, talvez, de refúgio. O pai sabe que ele precisa enfrentar essa realidade e o fato de sua mãe ter morrido, mas não sabe como se comportar como um pai diante dele, sem ser autoritário ou rude. O próprio rapaz se depara com dúvidas sobre sua sexualidade, sobre seus sentimentos, mas ao desfecho o que vemos é aceitação e uma confrontação de Duncan diante dos seus medos e a cena final metaforiza isso de forma espetacular. Seu animal de estimação representa essa inocência e ingenuidade que é devorada por ele. Se o nosso protagonista passa por esse momento de aceitação, Perry é o de negação, tanto das certezas, quanto das dúvidas.



O drama tem algumas cenas desnecessárias, como a do carro em que Duncan deseja impertinentemente buscar o chapéu que caiu na estrada ou a da garota que sente ciumes do Perry com sua amiga, já que ela também ficou com ele e pensa que entre os dois poderia ter algo a mais do que apenas sexo. Mas outras são também muito tocantes e fortes, entre elas as que estão próximas do final.

Emile Hirsch, com esse longa, mostra desempenho e ousadia por participar de um filme em que há forte conotação homossexual e várias são as cenas com esse quesito: a do estupro com ele vestido de noiva é uma dessas, assim como do carro entre os dois é também muito terna e forte. Ali há tantas dúvidas, medos, desejos e receios e o momento em que ele se afirma para Perry e seus amigos é outro ponto interessante.

Esse é um drama simples, com uma boa direção e uma trilha sonora adequada. O que me surpreendeu nesse longa mesmo foi mesmo o seu desfecho. Talvez tenha sido de forma brusca, mas ainda sim interessante, pois fica aquele desejo de entender e saber o que aconteceu aos seus personagens depois disso. Um longa um pouco antigo, é do ano de 2003, e que dificilmente temos acesso com facilidade, porém muito bacana.


 

2 comentários:

  1. É aquele tipo de filme que termina e, primeiro, você quer mais e, segundo, você fica por horas pensando nele. Meu peito dói quando eu penso nele....

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