Não há como não se divertir com essa história, não há como não se emocionar com esse drama
Laura Linney é uma atriz de talento e com muita credibilidade no meio cinematográfico. Vinda do teatro, ela fez poucas incursões no cinema, porém com belas atuações e sendo em sua maioria, papeis que lhe renderam excelentes críticas e ótimos resultados, fazendo dela uma grande atriz, pois não são todas as atrizes que com menos de quinze filmes em seu currículo conseguem duas indicações ao Oscar para o prêmio de melhor atriz.
E foi por meio desse caminho vivido dentro do cinema que lhe possibilitou dar vida a essa série tão carismática e sensível. Atuando como a atriz principal desse drama, ela assume também o cargo de produtora executiva da série, sendo que foi ela que conseguiu convencer uma pequena produtora, a Showtime, a investir nesse roteiro e produzir esse seriado que foi a surpresa desse ano de 2010 e que abocanhou uma indicação ao Globo de Ouro de melhor série comédia ou musical e rendeu a Laura Linney o prêmio de melhor atriz por sua atuação.
O drama conta a história de Cathy (Laura Linney), uma professora que tenta fazer de tudo para agradar a todos. Casada com Paul (Oliver Plat), percebe que não há mais paixão ou amor entre eles há tempos, mas permanece com o casamento, pois afinal, para que desmanchar esse relacionamento de anos, além do mais, seu filho Adam é ainda muito criança aos olhos dela, mesmo ele beirando os 15. Ela tem um irmão ainda mais problemático, fissurado por questões ambientais, ele vive na rua como mendigo, apenas por se posicionar contra o consumo degradante da sociedade capitalista.
Numa visita ao médico para verificar uma mancha que apareceu em suas costas, Todd, seu médico, realiza alguns exames, refaz todos por completo, mas descobre o pior: que ela está com câncer de pele em estágio terminal e que tem pouco tempo de vida e os tratamentos para tentar barrá-lo ou curá-la são limitados, devido ao grau de avanço em que se encontra a doença.
No começo ela não acredita, pois afinal, se sente bem e muito bem por sinal, só que aos poucos a ficha dela cai e vê o grau da verdade nessa notícia. Saindo do consultório, ela olha para toda sua vida e simplesmente se sente feliz, o motivo: ela não precisa mais se importar com os outros, pode mandar todos para o inferno e fazer tudo o que lhe tem de direito, pois afinal, ela tem câncer e irá morrer mesmo antes de esperado. Numa atitude espontânea ela expulsa o marido de casa, realiza uma jantar somente para ela, derrama vinho no sofá dela e o queima em seguida e resolve construir uma piscina no quintal de sua casa. Loucura não é, mas é com atitudes ao extremo, situações hilárias e uma história forte e intensa que The Bic C nos proporciona uma outra visão sobre essa doença. Ao invés de Cathy chorar pelos cantos, ela agradece e dá saltos e piruetas de alegria, pois sente que está finalmente viva e livre para fazer o que realmente deseja.
A série que teve uma temporada com 13 episódios mostrou essa professora em fortes altos e profundos baixos, sempre tentando recuperar o tempo perdido. Imaturidade, esse é o sentimento que ela quer viver, já que durante toda a vida optou pelo que era correto e certo. Ela se vê num posicionamento em que não há realização em seus anos, apesar de ter uma família, uma profissão, uma casa e tudo mais, ela acha que isso a sufoca, ao invés de consolá-la. O caminho que enfrentará para entender o que tem será lento, calmo e cheio de complicações, nada se dará de graça e tudo será de forma bem trabalhada, todos os erros, todos os comentários, atos e tentativas horríveis e desastrosas de se perceber a vida e vivê-la intensamente.
Nesse caminho louco, ela esconderá de todos a doença, se negará a fazer qualquer tipo de tratamento, pois em sua opinião, ela prefere morrer como está do que tentar uma cura que a maltratará e desencadeará fortes efeitos colaterais, sendo que ao final, a morte é o que estará a espera dela ao final de tudo, ou seja, tanto sofrimento em vão. Ela expulsará seu marido de casa, ele não entendendo nada, tentará convencê-la de receber ele de volta, só que essas tentativas apenas servirão para mostrar a ela o quanto ela perdeu tempo em sua vida. Com relação ao filho, sabendo que é mimado, ela vai fazer o possível e o impossível pra colocá-lo no caminho certo, sendo durona e muito próxima dele e proximidade é o que mais tentará com ele, obrigando ele a passar o verão com ela, conversando com ele sobre assuntos relacionados a sexo, e até vendo um filme pornô com ele e de certa forma, ultrapassando todos os limites de mãe: ligando para a garota que ele está interessado para dizer a ela que seu filho é muito tímido e que é ela quem terá que tomar as atitudes no relacionamento.
Mas também outros personagens terão presença na vida dela, depois de uma briga por causa da piscina, ela conhecerá e terá uma forte ligação com Marlene, sua vizinha. Ela será aquela em que ela poderá contar seus receios e medos, pois ela descobrirá que Cathy está doente e isso de uma forma muito estranha e nada comum e será Marlene também que irá abrir os olhos dela sobre o que está fazendo de sua vida. Outros personagens levam destaque, como seu médico Tood, que será mais do que um médico para ela, e sim um amigo e por fim, Mag, sua aluna, é outro objetivo de vida: não interessada nos estudos, Cathy assumirá o compromisso consigo mesma de tentar mostrar para essa aluna cabeça dura a importância dos estudos e como eles podem mudar a vida dela e propor uma melhor condição de vida.
Todos esses fatos serão mostrados com muita irreverência, será por meio da comédia que o drama ganhará presença e é devido a esse ponto que esse seriado conseguiu ser tão carismático. Há seriedade em todas as abordagens que fizeram, há o drama de ser ter essa doença, mas também há o desejo de tentar viver sem ter a noção sempre presente de ter uma doença que em breve consumirá toda a sua vida. Algumas pessoas criticaram a proposta do seriado no fato de Cathy não comentar sobre a doença com seus familiares, mas como a própria atriz comentou ao analisar o projeto, o ato de não contar faz parte de um caminho pelo qual a personagem terá que passar que a aceitação dessa doença. É somente após ela perceber a vida e todos os elementos dela e do que realmente significa a morte para ela e todos ao que estão ao redor dela, que ela dará valor ao viver e a real importância de se lutar pelo que tem.
Essa série lembra muito outro seriado que abordou a questão da morte de uma forma muito bela e sincera, sem ser muito sentimental e melosa que a “A sete palmos”. Naquele seriado, a morte estava presente constantemente em todos os episódios, pois era pela presença deste elemento que os integrantes daquela família conseguiam compreender a vida, já aqui a morte não se mostra tão claramente, mas apenas a sua ideia, a sua presença nivelada pelo fato de que em breve ela virá, sendo assim a personagem de Cathy vive com esse temor de que seus minutos são os últimos, suas ações serão as últimas, pois cada segundo valerá a pena, cada burrada, cada erro, cada tudo. É por meio dessa certeza que o seriado encontra um caminho e um rumo em abordar um tema tão forte que é a questão da morte, mas contrabalancear com o fato de que ainda há a vida e se ainda há fôlego, erros serão cometidos, mas acertos também.
Ao final da temporada,um personagem querido deixa a série. Para se perceber a vida, tem que haver a morte e a série encerra esse arco de forma muito sensível. The Big C foi renovada para uma segunda temporada, nesse sentido, Cathy terá mais um tempo de vida, só que agora, não haverá tanto espaços para erros. Alguns sentimentos foram revelados, alguns fatos foram compreendidos, digo isso pelo filho dela que entendeu o que significa ela ter essa doença. Se esse seriado terá mais de 4 temporadas é difícil dizer, pois afinal, já foi dado no começo da série a informação de que ela tem pouco tempo de vida, basta ela viver esse tempo da melhor forma possível e render a série ótimas histórias e temas interessantes.