terça-feira, 22 de março de 2011

Um pouco de literatura: Até mais, vejo você amanhã


Livros são algo complicado, saber comprar uma obra, dá muito trabalho. Ler e perceber que não está gostando é uma sensação muita chata, afinal, terminar ou não, mesmo se a leitura não está sendo das melhores. Às vezes, há uma esperança de que a trama resolva andar, ser mais atraente e tenha aquele ar de curiosidade em saber o que acontece mais adiante, mais ao final, ou, como que essa história será fechada?

Comecei a ler esse livro há um tempo, achei o começo meio enfadonho, insisti, não resisti e o deixei de lado. Após um tempo, depois de ter lido tudo o que podia ler e estava cansado dos livros sobre música, cinema, psicologia e violência (bibliografia do meu TCC) resolvi voltar as minhas atenções para essa história novamente, com o objetivo de ir até o final e para a minha grata surpresa, a obra guarda um drama sensível sobre erros que cometemos na vida e por mais que queiramos concertar, nada podemos mais fazer.

O livro é um pouco complicado, por isso o começo cause um estranhamento. Acompanhamos a vida de um homem que por curiosidade do passado, resolve voltar o tempo e contar sobre a sua história. Assim conhecemos um garoto que perdeu a mãe cedo, sendo um pouco fechado (ele tornara-se escritor quando adulto), aos olhos dele, foi o que mais sofreu pela perda. Seu pai, não muito ligado a demonstrar sentimentos, teve que arcar em cuidar de uma família grande com todos os filhos pequenos. Passado um tempo, pouco tempo frisado pelo narrador, seu pai se envolveu com sua professora de música e anos mais tarde, assim que pôde, para não causar falatório, se casaram. Eles se mudaram para outra casa bem mais confortável e lá ele não tendo amigos, permaneceu sozinho até que um dia conheceu um garoto. Esse menino era meio calado e com certa desenvoltura e ainda retraído resolveu brincar com ele em cima dos detalhados de uma casa em construção. Após esse primeiro contato, todos os dias esses dois garotos passaram a ter um encontro marcado naquele local: sem trocarem nunca uma única palavra, apenas brincavam.

Um fato marcou a cidade e também essa amizade tão silenciosa, um homem morreu, foi assassinado por um antigo vizinho. O acusado foi justamente o pai do garoto. Após isso, nunca mais o vera para brincar. Por meio desse fatídico acontecimento que já sabemos de antemão, somos levados a conhecer uma história sobre uma amizade entre dois homens que é abalada por um desejo e um amor complicado e perigoso. Tudo começa a ruir a partir do momento em que um se apaixona perdidamente pela mulher do outro e passa a ter um caso com ela. Nessa história de traições, o final não será nada feliz para todos os envolvidos.

Essa é a abordagem desse livro, misturando essas duas histórias, trafegamos por essas duas tramas, em uma, há um drama sobre um garoto que tenta superar a morte da mãe e o rápido envolvimento do pai com a professora e outra, sobre dois amigos que tem sua amizade finalizada de uma forma trágica por conta de uma traição, da mulher e do amigo.

A obra inícia com uma história, finaliza e começa com a outra e assim progressivamente. Elas apenas serão intercaladas ao final. O momento final é o fato que inicia a livro, a morte de um homem. Apesar de serem dois dramas num só livro, a autor consegue levar bem esses dois temas. Nos apegamos ao narrador e conseguimos compreender a sua dor, da mesma forma como nos sensibilizamos com os dois amigos e pela mudança nos sentimentos e nos caminhos que essas duas famílias tomam em suas vidas. Somos apresentados a esses dois homens, suas mulheres e seus filhos também, até o cão tem presença marcante no livro e um final tão comovente quanto doloroso.

A dor é dilacerante, todos somos afetados por ela e contra ela agimos de formas diferentes. É uma ferida que corrói até a última gota de alegria, ou sustentação da vida. Nesse livro, há dois garotos que são marcados terrivelmente pela morte de pessoas próximas a eles, no caso de um é a mãe e a do outro, o pai que após matar seu melhor amigo, se mata, se lançando num poço de água.

Mas além desse fato, há outro sentimento de dor que acompanha esse escritor que somente é nos revelado ao final do livro. Um ato que ele comete e que o atormenta e está ligado a esse amigo que ele teve por pouco tempo. Por meio dessa narração, ele tenta entender esse passado, suas dores e as dores desse garoto, mas não apenas as feridas, mas também os motivos que levaram todos a esse destino.

Uma obra instigante, bem escrita, envolvente, que apesar de começar calma e sem graça, ganha peso e estrutura com o desenvolver dos acontecimentos e chega ao um clímax de tensão e agonia e o mais interessante é que, o ponto em que culmina todo o drama, nós leitores, já temos o conhecimento. O autor trabalha com um fato já revelado para nos levar a entender como tudo aconteceu, nos leva a tentar compreender como isso chegou a esse ponto. Não há surpresas, mas uma história bem amarrada.

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