sexta-feira, 25 de março de 2011

Eu sou o amor

Filme italiano sobre família, tradições e desejos resguardados. Esse é um daqueles dramas bem arrastado, calmo, que parece que nunca caminha, mas que vai jogando situações de forma singela. Somente após ver o longa é que o espectador perceberá como o drama é profundo, convincente e que apesar de caminhar lentamente, ele guarda uma boa história com um bom desfecho.

O longa conta a história da família Recchi, a partir do momento em que o patriarca resolve deixar toda a herança para o filho Tancredo e seu neto Edo. A surpresa fica por conta do neto ter herdado conjuntamente do pai a empresa, já que ele nunca esteve ligado aos negócios da família. Edo possui um amigo que é chefe de cozinha, Antonio, que tem o sonho de abrir um restaurante servindo pratos mais requintados, da alta gastronomia e Edo o ajudará nessa empreitada. Nesse caminho, Antonio conhecerá Emma, a mãe de seu amigo, que aos poucos se envolverá com ele numa paixão tórrida e intensa.

O filme é isso, mas ele tem muitos mais detalhes. Edo é um homem extremamente sentimental e super ligado a mãe. Ele está noivo e em breve assumirá os negócios da empresa sem ter a menor noção de que seu pai e seu irmão estão com planos de vendê-la. Sua irmã mais nova não sabe o que fazer da vida, se lança ora na pintura, ora na fotografia, mas essas questões serão esclarecidas em breve quando ela perceber o que realmente quer. Emma, sua mãe, descobrirá esse segredo e ficará presa a uma sensação de não conhecer por completo seus filhos e que eles não estão mais ligados a ela. Ela por si só é russa, mas ao se casar com Tancredo, deixou todo o seu passado e sua nacionalidade para traz, dando vida a uma nova mulher, até inclusive, adotando um novo nome, Emma. Ela tenta ser como eles, uma italiana que segue os padrões de uma família apegada às tradições, engessada que não expressa os sentimentos e que vive na total aparência, porém por mais que tente, ainda ela não consegue, ela se destoa de todos, seja por sua postura ou por seu porte físico único que chama a atenção de longe.


Todos ali seguem a linha de uma família convencional, mas que guarda situações e sentimentos. O filho, Tancredo, está prestes a vender a empresa quando o pai queria que ele permanecesse com ela. A mãe percebe que a curiosidade de Emma por Antonio não está apenas nos pratos que ele prepara, mas ela nada faz ou nada comenta, como se esse detalhe fosse normal ou convencional acontecer. A filha de Emma percebe que está afim de sua professora e que gosta de mulheres, o único a quem ela conta isso é Edo, porém sua mãe descobre por acidente, mas permanece em silêncio até que sua filha pessoalmente conte a verdade. Nesse sentido, todos vivem escondendo o que pensam e o que sentem, como se isso fizesse parte deles, como se isso fosse comum.

O longa trabalha muito bem com as cores para demonstrar o exterior dos cenários e o interior dos personagens. Um clima frio, com uma fotografia gélida e cores em cinza para as paisagens em plano geral da cidade e tonalidades quentes e cores fortes para mostrar a casa dos Recchi. Por fora são frios, mas por dentro são quentes e calorosos.

A trilha sonora é outro ponto interessante do longa. Ela entra nas cenas mais fortes meio que guiando as sequências de imagens, lembrando muito os desenhos antigos da Disney em que a música era o enredo do filme. Nesses momentos, em que a trilha toma o comando da cena, não há mais a presença de falas ou ruídos ambientes, apenas a música numa sinfonia que causa angústia, dando a entender que algo vai acontecer e será algo tenso. O final do longa também é genial, há toda uma sequência de ação num pleno silêncio de palavras que se contrabalança com uma música que intensifica seu ritmo conforme os atos vão sendo cometidos. Não há explicação para tal fato, apenas tudo acontece de uma forma que ninguém previa, já sabíamos que isso iria acontecer e quais eram os motivos, porém mesmo assim, essa cena causa perplexidade e isso se dá devido ao trabalho excepcional da trilha sonora.


No elenco, os elogios vão para Tilda Swinton. Seu tom de voz e sua postura, seja na forma como ela olha o Chef de cozinha o desejando ou seja no medo de ir atrás dele, são excelentes. Uma ótima atuação que com certeza merecia uma indicação ao Oscar. Em falar nisso, essa é uma atriz que merece destaque, nos vários filmes em que esteve, sempre obteve ótima presença e postura e com atuações fortes, seja como a vilã em As crônicas de Nárnia ou como uma mulher de meia idade em O curioso caso de Benjamim Buton ou ainda com uma pequena participação, mas que deu muito certo em Flores perdidas.

O longa em si não é excelente, mas segue a linha dos filmes dramáticos que com calma, seriedade e tranquilidade, nos entrega um obra fascinante e cheia de detalhes que se percebe conforme vem as lembranças do filme ou quando o vê novamente. O longa não consegue prender muito a atenção de todos, já que ele é bem arrastado e não são todos que levam o filme até o final da película, entretanto é um é um drama que vale a pena conferir. Mais um detalhe, o título do longa Eu sou o amor é tosco, meloso e estraga as possibilidades de alguém querer vê-lo, um nome mais bacana seria Emma, já que o drama gira em torno dela. 




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