Um filme emblemático, difícil, extremamente trágico e triste. Um longa que se apóia na ficção científica para retratar um drama profundo e contundente sobre a vida e sobre diversas questões que nos cercam: o que nos faz ser o que somos, se podemos realmente mudar o curso de nossas vidas, mesmos que estas já estejam pré-estabelecidas, e se aceitação do fardo e da dor é um tido como um forma de desistência.
No longa, somos apresentado a Kathy (Carey Mulligan), um assistente, ela está com 31 anos e relembra a vida que passou em Hailsham, um escola com estilo de internato. Quando criança, ela viveu lá os melhores momentos de sua existência, com sua amiga Ruth (Keira Knightley) e sua paixão de infância e de toda vida, Tommy (Andrew Garfield). Lá, eles brincavam, corriam e se divertiam. A escola, cheio de grandes e vastos campos, tinha uma disciplina estreitamente rígida, eram proibidos de deixarem as fronteiras da casa e obrigados a sempre manterem uma boa alimentação e hábitos saudáveis. Tanta beleza e rigidez escondia uma densa verdade. Numa época em que a ciência se desenvolveu drasticamente, foram criados em laboratórios clones de humanos com a finalidade de servirem como doadores de órgãos, com esse recurso, se poderia obter o fim de inúmeras doenças e estender a expectativa de vida para além de cem anos. Esses clones seriam cuidados com todos os recursos possíveis, para que assim que chegasse a juventude, pudessem começar a doar seus órgãos até que fosse possível. Essas crianças são esses doares que vivem essas vidas sabendo do que enfrentarão pela frente, mas sem ter um conhecimento exato sobre esse fatídico destino. Essa verdade é revelada a eles por meio de uma professora, Lucy (Sally Hawkins), a única, aparentemente, a demonstrar calor humano naquele local. Ela tendo conhecimento do que acontecerá a eles e os vendo, afirma que eles jamais terão uma vida, nunca poderão ser jogadores, bombeiros, astronautas, médicos ou algo do gênero, pois a vida deles já estavam direcionadas a serem simples doadores que no mais tardar, viveriam até os 35 anos.
Ainda no colégio, Kathy se interessa por Tommy, um garoto solitário que por ter excessos de raiva e sempre estourar, era motivo de risada e piadas. Os dois iniciam uma forte amizade, Ruth sua amiga, os vendo, toma uma atitude que mudaria pra sempre a vida deles, ela se envolve com ele e inicia uma espécie de namoro com Tommy, deixando Kathy sozinha, se pondo sempre ao lado dele como uma amiga. A cena que encerra essa infância é ela vendo os dois se beijando. Alguns anos se passam e já vemos os três indo morar num lugar chamado Chalé, lá eles poderiam ter uma pequena experiência na prática de convívio com outras pessoas, antes de iniciarem o processo de doações. É nesse local que esse triângulo amoroso sofrerá sérias conseqüências, com cada um seguindo caminhos diferentes.
O longa, apesar de ser um drama bem trabalhado e com uma qualidade técnica impecável, sofre no roteiro. Pouco se trabalha em cima da questão da clonagem humana, sendo que a palavra “clone” nunca é dita, apenas é expressado poucas vezes o termo “original”. Está certo que as informações num filme não precisam ser ditas claramente, mas nesse caso, por este ser uma ficção científica, em que as idéias não são fáceis de serem assimiladas, uma explicação melhor cairia bem. Não é dito quem os coordena ou os banca, se é o governo ou empresa, a partir de quem foram feitos essas clonagens e o principal erro no roteiro, trabalha em cima de um triângulo amoroso, ao invés de explorar um tema que se fosse mais bem retratado, com certeza, faria desse filme uma bela obra prima, que é o fato de questionar a questão da existência humana, no caso, qual é o fato que nos faz ser humanos, se é a nossa alma, nossos sentimentos ou nossa capacidade de pensamento. Esses clones podem pensar, sentir, sofrer, amar, mas eles tem uma alma?
Como afirmar que sim, como assegurar que não. Essa questão emblemática, que percorre as entrelinhas desse filme não é trabalhada de forma devida, sendo apenas delineada ao final do longa, numa frase da personagem de Kathy. Esse recurso no roteiro foi traçado para que o triângulo amoroso fosse mais tratado, porém apesar de ser um recurso interessante, a questão do amor como fuga para uma dura realidade e como forma de comprovar o quão humanos eles são, não convence muito, esse argumento era para soar mais como detalhe, que dá veracidade ao questionamento, abrandando e valorizando a questão do que ser o principal foco do filme.
Como afirmar que sim, como assegurar que não. Essa questão emblemática, que percorre as entrelinhas desse filme não é trabalhada de forma devida, sendo apenas delineada ao final do longa, numa frase da personagem de Kathy. Esse recurso no roteiro foi traçado para que o triângulo amoroso fosse mais tratado, porém apesar de ser um recurso interessante, a questão do amor como fuga para uma dura realidade e como forma de comprovar o quão humanos eles são, não convence muito, esse argumento era para soar mais como detalhe, que dá veracidade ao questionamento, abrandando e valorizando a questão do que ser o principal foco do filme.
Mas o longa consegue obter excelentes momentos na fotografia e apresenta uma bela trilha sonora. As cores usadas constantemente no filme são sempre gélidas, frias, seja nas paisagens, na ondulação da fotografia ou nos figurinos dos personagens. Sempre há um semblante triste impregnado em cada cena, em cada momento. Nunca há sequer um momento de calor humano, desejo ou vida. Outro ponto interessante é que no começo do filme e em certos partes do longa, há o uso de fundos de telas, também em cores frias, sendo que no de correr da história é usado para separar o drama em partes, capítulos, todos estes também titularizados. Já no começo do filme, creio eu que é um recurso apenas para demonstrar o teor e peso do filme e da história a ser mostrada. O drama que já é trágico, apenas tem aprofundado essa sensação de tristeza, fazendo deste longa uma obra sensível, mergulhada num sentimento de dor que provoca a reflexão. Apesar de toda essa tristeza, o filme ainda não cai num melodrama, ele é seguro nesses sentimentos. A trilha sonora também é bem usada, porém, seu principal triunfo é ser colocada ao lado, sendo que em nenhum momento ela pesa no filme ou o guia manipulando os sentimentos do espectador. Ela é límpida e clara, está para tentar amenizar as cenas, nunca provocando lágrimas desnecessárias. O elenco está muito bem, Sally Hawkins, apesar de ter tido uma pequena ponta como a professora Lucy, esteve muito bem, tocante, introspectiva e viva. Já o trio principal, estão muito bem.
Mas o grande desse filme é a sua história. O longa é pesado, não há como negar esse fato. Porém, o mais interessante desse drama é como esses três jovens aceitam o seus destinos, não se pondo contra ele, mas tentando viver da melhor forma possível. Eles erram e carregam o peso dos seus erros, mas também amam e sofrem por esse sentimento e cada um ao seu modo obtém a resposta para a questão que os sempre confrontavam: eles tem uma alma? Ruth consegue sentir-se perdoada pelo mal que cometeu, Tommy que verdadeiramente amou e foi amado por alguém e Kathy, que vivenciou esse amor, mesmo por pouco tempo e percebeu nesse fatídico destino, um sentimento de dor e alegria por ver que neles haviam tanta humanidade, tanta plenitude quanto naqueles que eles salvavam.
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