domingo, 1 de maio de 2011

Como esquecer


Elenco global em filme profundo e ousado.
Ana Paula Arósio é Julia, uma mulher amargurada depois que viu seu relacionamento de anos se desfazer. Após sua companheira deixá-la, ela se fechou de tal forma para todos, que nada mais lhe interessa. Não há mais motivo para riso, saídas ou palavras de ternura, o pior é que a todo o momento surgem lembranças delas juntas e esses momentos em que fora feliz a torna ainda mais fechada e solitária. Mas ela não está sozinha nessa, pois seu amigo Hugo (Murilo Rosa) vai tentá-la tirar desse mundo sofrível a todo custo, segundo ele, essa é uma dívida que ele tem com ela, depois que ela o ajudou a superar a morte do seu namorado.
Depois de muita insistência, Hugoa convence de alugar uma casa fora do centro de Rio, um lugar mais calmo e silencioso e junto deles vai morar também Lisa (Natalia Lage), uma amiga que está passando por maus bocados, grávida, o namorado largou dela, deixando-a totalmente desamparada. É com um tema ousado e forte, o homossexualismo, que o longa tentará mostrar uma situação a comum de todos nós. Quando um relacionamento chega ao fim, não pelas nossas mãos ou querer, mas pelo outro, seguir adiante é uma caminhada difícil e dolorosa, em que nos culpamos por tudo e deixamos com que o passado cegue nossa visão sobre o presente e atormente a possibilidade de um futuro. Essa é uma dor profunda e um momento pelo qual todos nós estamos sujeitos.
Num tom de primeira pessoa, conhecemos essa mulher tão fechada, distante e infeliz. Baseado numa obra, o longa é guiado pelas imagens, pelas ações de seus personagens e por uma narração em off que tenta explicar todos os sentimentos ou momentos de Julia. No caso, ela narrando a si mesma vai revelando suas angústias e dores.



O drama se perde um pouco devido a esse detalhe, pois essa narração o torna muito engessado, cansativo e exaustivo. O longa inteiro tem um peso sobre seus ombros, não há nada que denote felicidade. A fotografia é gélida e as paisagens com um tom frio, sempre com o tempo nublado e nem o mar consegue dar brilho e voracidade a esse cenário. A casa em que eles passam a morar meio que simboliza os sentimentos de todos, em especial a de Julia. Cômodos úmidos, desconfortantes, chegando a ser insuportável, nem mesmo o jardim salva a casa, mas é disso que eles precisam nesse momento. Algo que eles possam transformar e mudar aos poucos, embelezar. Todos estão num estado ainda de dor, Julia de auto-sofrimento, Hugo de luto e Lisa de incertezas.
Se o longa ficasse apenas nesses três personagens, provavelmente não conseguiria caminhar até um final, pois não há motivação neles, apesar de Hugo ser o único a tentar, ousar, encher a cara e colocar todos para cima, sendo um alivio em meio a tanta dor, ele também está sofrendo com a morte do seu namorado, ele ainda o ama e sente saudades. Mas próximo do meio da história entra em cena Carmem (Bianca Camparato), uma estudante que vive importunando Julia, que é a sua professora de língua inglesa e orientadora na produção do seu artigo. Ela é simpática, sempre trava fortes conversas com ela, demonstrando claramente suas intenções, porém Julia nunca se abala, afinal, seu espaço não está aberto para ninguém, entretanto ele sente o seu chão estremecer um pouco depois de conhecer Helena (Arieta Corrêa), prima de Lisa, essa sim é direta, ousada e capaz de quebrar essa barreira que há na vida dessa professora. Por Julia ser professora, o longa sempre coloca em debate a história de grandes clássicos da literatura, tentando entender os motivos de seus personagens e se a vida dos seus criadores influenciaram na produção de suas obras. Há um paralelo sempre constante entre a escritora Virgínia Wollfman e a vida dessa infeliz professora.


Com ousadia, diretora entrega um filme denso, extremamente distante, mas que apesar de todo o reluto e implicância de sua protagonista, mostra uma personagem real. O longa não está interessado em trabalhar com a questão de um novo amor, mas o caminho pelo qual passamos entre o fim de um relacionamento e as tentativas de encontrar um novo alguém. É sobre esse meio, sobre esse pedaço que a história quer trabalhar em cima. Não é um melodrama, há momentos também bem engraçados e leves e se deve a presença forte de Helena, suas diretas, pretensões e sensualidade a flor da pele pra cima de Julia que são muito divertidas. Outra personagem de destaque é a aluna Carmem, com um jeito gracioso, ela tenta se aproximar de sua professora, mas sempre levando pancada, porém nunca desistindo.
O elenco está muito bem afinado. Ana Paula Arósio faz uma personagem totalmente distinta de seus papéis na televisão, alias esse é um filme que dá fôlego a sua carreira, pois sua atuação foi muito bem recebida, Murilo Rosa é outro que mostra carisma, apesar de abusar dos trejeitos para interpretar um gay, convence no papel. Natalia Lange está bem, mas a sensação que se tem é que ela fica a sombra desses dois personagens, mesmo ela tendo uma história forte também, não é bem trabalhada e sendo assim, sua atuação fica apenas boa e correta. Agora, Arieta como Helena é demais, ela, em minha opinião, rouba a cena, o momento e a hsitória, da mesma forma que  Bianca, a jovem estudante.

Há momentos delicados e poéticos no longa, como também há ternos e singelos, porém o desfecho consegue imprimir bem uma veracidade a todos esses personagens. Nada fantasioso, mas apenas real. Um drama diferente e ousado, pois mostrar uma professora lésbica sendo disputadas por duas mulheres e tendo um amigo gay, não é todos os dias que se vê no cinema nacional, ainda mais com figuras tão globais assim.
“Como esquecer” não é marcante, mas consegue trabalhar muito bem esse drama, essa dor tão comum e presente em nossas vidas. Seguir a diante não é tão simples e fácil assim, há todo um percurso, um caminho e sentimentos para serem vividos. 



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