Uma declamação de dor, luto e vida
Nicole Kidman é Becca, uma mulher aparentemente normal, com um relacionamento estável com Howie (Aaron Eckhart), morando numa boa e confortável casa num subúrbio dos Estados Unidos com vizinhos sempre carismáticos e atenciosos para com ela, porém toda essa normalidade e aparente tranquilidade esconde e camufla um casal a beira de um profundo abismo de dor e angústia. Há oito meses que o único filho deles, Danny, morreu atropelado num fatídico acidente de carro. Após esse fato, tudo mudou na vida deles.
O drama começa mostrando cenas corriqueiras, do cotidiano, entretanto nada desse fato, da morte desse filho, é dito claramente. Acompanhamos a rotina desse casal e aos poucos vamos percebendo que algo não está normal, uma barreira os separa. É como se os dois vivessem na mesma casa, trocando palavras, mas no fundo, nenhum estivesse ali realmente. Seus pensamentos e sentimentos estão trafegando por lugares diferentes e distintos.
Cada um, ao seu modo, tenta superar essa dor, esse luto. Howie numa terapia de auto-ajuda tenta confrontar essa verdade e seguir adiante e Becca na fuga e na ideia de apagar todas as lembranças de seu filho, o porém é que nada disso está realmente funcionando para os dois e a vida deles estão sendo destruídas aos poucos. O vazio deixado jamais poderá preenchido. É com esse drama, de certa forma seco e frio, que o diretor tenta abordar esse momento tão complexo e difícil de se lhe dar´que é a perda de um filho.
Alguns elementos cinematográficos usados no longa conseguem conferir mais veracidade e suavidade ao filme: durante todo o drama o diretor usa planos estáticos para visualizar seus personagens. É como se ele quisesse apenas observar esse casal em suas rotinas, não é ideia do diretor dar uma resposta, uma saída, um sentido ao final dessa história ou fazer com que seus personagens encontrem a tal felicidade, proposta pelo título em português, mas apenas colocar o espectador como um mero observador. Em falar nisso, alguns planos são realmente muito bons, obtendo excelentes ângulos e ótimas paisagens.
Outro ponto positivo é a fotografia que possui um tom gélido que dá uma certa sensação de distância e frieza com relação ao filme. A trilha sonora também obtém destaque, com uma melodia sútil e minimalista, o instrumental apenas contrabalanceia as imagens, nunca se sobrepondo a elas, apenas dando uma leveza ao momento. Todos esses elementos dão uma sensação de distanciamento e por consequência, amenizando esse drama que tem como fio condutor uma história extremamente trágica, evitando assim lágrimas desnecessárias.
Há também por um pequeno momento o uso da voz em off ou narração em off, nunca gostei muito desses dramas terminarem com esse recurso, mas nesse longa, o uso da voz em over foi belamente colocado, intensificando ainda mais as qualidades desse drama nos quesitos cinematográficos.
O roteiro e a direção também mantém o filme seguro, nunca dando saídas fáceis para momentos complexos. A relação de Becca com sua mãe da mesma forma que está calcada em trocas de agressões ásperas, está repletas de verdades que nunca são ditas de forma melosa ou clichê, outro ponto forte na história é envolvimento dela com o jovem responsável pela morte do seu filho. A ligação entre eles é terna, tocante e nela está explicado o motivo para o filme ter esse título, Rabbit Hole, algo como A toca do coelho. Por meio dessa metáfora, consegue-se compreender toda a dor de seus personagens.
O elenco está formidável, destaque para Nicole Kidman que após alguns filmes em que não conseguiu ter uma boa atuação, obteve nesse drama uma ótima presença, lhe dando inclusive uma indicação mais do que merecida ao Oscar. Dianne Wiest também está excelente, sua personagem é terna, sensível e carismática. O único que talvez não tenha conseguido se impor é Aaron Eckhart, apesar de estar bom, diante dessas duas fica devendo. Sandra Oh como Gaby também leva os créditos, mesmo tendo uma pequena participação, confere graciosidade à sua personagem, sendo que até o relacionamento que é criado entre ela e Howie é compreendido, devido as circunstâncias em que dois se encontram.
A direção é de John Cameron Mitchell que tem no curriculum ótimos filmes até o momento como ShortBus e Hedwig: rock, amor e traição. Esse Reencontrando foi quase esquecido pelo Oscar, somente sendo lembrando pela indicação de Kidman à melhor atriz, porém esse drama merecia uma indicação ao Oscar de melhor roteiro adaptado e porque não, diretor. Um filme sensível que não traz a redenção para os seus personagens, um drama contundente, em que a felicidade não se encontra facilmente, pois na verdade o que esses personagens desejam nem é a busca desse sentimento, mas apenas uma forma de se manterem vivos.
Fiquei sabendo que esse filme foi rodado em pouco mais de 1 mês, confere essa informação?
ResponderExcluirIndependente do tempo para chegar ao trabalho final, aproveito para deixar meus créditos para Nicole Kidman, pelo peso que confere ao filme.
Não assisti ainda, mas confesso que estou ansioso para observar essa história que ao meu ver (depois de ler esta resenha) promete nos dar horas de drama e sentimentalismo. Seja qual for.
Olá, Ailton. Acabei de ler o post. Parabéns pelo texto. Adoro cinema e este filme é fantástico. Fiz uma postagem dele no meu blogger. Gosto dessa temática. Parabéns pelo blogger. Até...
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