Um filme sobre a dor. Como suportá-la e se manter vivo.
Catherine ainda não consegue suportar a perda do filho que morreu num acidente de carro. Walt sente-se traumatizado pelo acidente que provocou, Jordie acaba de sair de um reformatório, não tendo um bom relacionamento com o pai, terá um caso com a madrasta, deixando a situação ainda mais problemática.
Todos esses três personagens têm como ponto de ligação um acidente. Jordie roubou um automóvel juntamente com um amigo, filho de Catherine, mas bateram de frente com o carro de Walt que via em alta velocidade. Nesse incidente, todos saíram feridos. Catherine morre aos poucos pela perda do filho, Jordie sente-se culpado pelo que cometeu, já que a ideia de roubar o carro partira dele e Walt, por ter matado alguém, mesmo que acidentalmente, além de encarar essa morte, ele tem que lhe dar com o irmão, que é autista e estava tendo uma boa evolução no quadro, mas que devido a esse acidente (ele também estava no carro) passou a ficar todos os dias em casa com medo de que tudo pudesse acontecer novamente.
O longa caminha a todo o momento tentando entender o que esses personagens sentem. Não há como decifrar o que passa pela suas mentes. Seus atos também não são compreendidos. Jordie se envolve com a esposa de seu pai sem explicação aparente, mas depois se vê numa situação desconfortável quando ela começa a demonstrar ciúmes dele com uma amiga. Walt se separa da esposa e tem um caso com uma aluna, o que era para ser apenas sexo, ele leva como sério. Catherine fica sempre paralisada, sem reação, com seu filho mais novo em sua frente pedindo atenção e ela o esnobando constantemente. Ela não quer que ninguém toque nas cosias do seu filho que morreu, somente ela pode entrar no quarto e senti-lo novamente. Ela não permite que ninguém siga adiante.
É com esses sentimentos tão pesados que o longa vai direcionando essas vidas. Ao final, nada se resolve tão facilmente, alguns personagens tomam um rumo, outros simplesmente ficam sem reação. Nesse ponto que reside o ponto interessante desse filme. Nem todos acham um final ou uma solução para os seus problemas, sendo assim, nem todos os finais são realmente de fato um desfecho, mas apenas uma continuidade. A vida prossegue e os problemas também.
A direção é boa, faz o longa caminhar dentro de um drama intimista e profundo. O diretor não quer explicar como aconteceu o acidente e nem tão pouco como era a vida deles antes desse fato, mas apenas trabalhar com a dor do agora. Ele quer trabalhar com o luto de todos esses personagens, pois afinal, uma pessoa morreu e com ela foi uma parte de cada um destas pessoas. Desde a mãe que não suporta a ideia de ver um filho morrer diante dos seus olhos, a de um jovem que sente-se perdido e desorientado na vida, martirizado pela morte do amigo ou a do professor que sente-se duplamente culpado: pela morte do jovem e pela instabilidade do irmão, que aos seus olhos regrediu devido a esse acidente. Em falar nisso, a relação dos dois é uma das mais interessantes do longa. A forma como ela é guiada, as dificuldades do rapaz em sair de casa, o cansaço do irmão em ajudá-lo, são muito bem trabalhadas.
A relação de Jordie com sua madrasta também se coloca bem no filme, mais por parte dela do que dele. Podemos perceber por quais motivos ela se envolve com ele, já ele não fica tão claro, talvez tenha feito isso por raiva do seu pai, pelo momento que está passando, pois afinal ter um caso com a esposa do pai não é tão comum assim. Com Catherine, o universo é de dor, pois tudo lembra o seu filho e ela faz de tudo para não se esquecer dele, as cenas do supermercado e a das flores no local de morte dele são muito comoventes.
Com relação a trilha sonora, o destaque ficam para os instrumentais que começam o longa e para a música que finaliza o filme. Uma melodia triste e gostosa, uma letra trágica e envolvente. No elenco nomes de peso como Carrie Anne Moss e Kevin Zegers. Ela, uma atriz que sempre ficará lembrada como a Trinity de Matrix, porém que tem em seu currículo personagens muito mais densos e marcantes e ele que obteve ótimas criticas com sua atuação em Transamérica.
O filme que é canadense teve pouca distribuição nos Estados Unidos e Brasil. Difícil encontrar informações sobre o filme ou sobre sua recepção no país de origem ou outros festivais por onde tenha passado. Porém, isso é o de menos, pois é um ótimo drama que faz um trabalho muito perspicaz sobre a dor e como esse sentimento pode nos consumir por inteiro. Essa história lembra a de outro filme que está para ser lançado ainda em 2011 com alguns nomes nobres no elenco: Ana Paquin, Matt Damon eMarck Ruffalo. Na trama, um acidente de carro e quatro pessoas que tentar sobrevier após esse fato.
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