quinta-feira, 5 de maio de 2011

Hedwig – rock, amor e traição

Ousado, diferente, sensível, delicado

Um musical bem transgressor. A história de um transexual que para escapar da Alemanha oriental com um sargento americano, realiza um cirurgia que não sai completamente perfeita e vai para a América. Lá, é deixada pelo marido à mercê sem saber fazer nada. Apaixonada por rock, conhece um jovem, filho de casal para quem trabalhava como babá. Junto dele, desenvolve ótimas canções e cria um superstar, mas é deixada de lado e traída por esse jovem, passando então a se apresentar em pequenas lanchonetes, bares e lugares mais toscos possíveis tentando obter um reconhecimento mais do que justo pela sua carreira.

É com força e delicadeza que somos apresentados a essa personagem tao marcante e vibrante. Uma figura que não teve sorte na vida, mas mesmo diante de todos os empecilhos continuou. Seus olhos expressam sofrimento, sua voz cansaço, porém suas canções revelam desejo, raiva e vida.

Fazia tempo que não via um musical tão vibrante e gostoso e um longa tão ousado e terno como esse.. Tendo como protagonista um transexual, esse drama não é para todos. Da mesma forma que esse filme é diferente, estranho, difícil, trash, ele consegue ser delicado, sensível e comovente. Sua protagonista ou seu protagonista, como melhor achar, somente pelo seu olhar nos revela um sujeito marcado pela dor. São por meio de suas canções, cantadas nos lugares mais esquisitos, que conhecemos sua história, do ponto em que ela era apenas um garoto vivendo numa Alemanha oriental marcada pelas dificuldades e restrições até a fase atual em que ele se encontra. Quando criança adorava ouvir rock americano progressivo, mas sua mãe não permitia, na juventude conheceu um sargento americano que estava disposto a casar com ele e levá-lo para a América, porém para isso, teria que deixar algo para traz. Topou fazer uma cirurgia de mudança de sexo, mas ela não foi bem sucedida. O pior de ter que passar por isso foi ver que anos mais tarde o muro fora derrubado e tanto sacrifício tinha sido em vão, era só ter esperado um pouco mais no caso. Entretanto sua sorte tinha muito a que piorar.

A segunda pessoa que conheceu e se apaixonou perdidamente foi um jovem que ela passou todo o seu conhecimento sobre a música, sendo que conjuntamente dele compôs suas melhores canções, no caso, todas eram de sua autoria praticamente, mas ele a traiu também, ficando famoso a renegando e a obrigando a trilhar outro caminho não tão bom assim. Dessa forma, chega-se onde está no momento: fazendo shows hilários por todo os Estados Unidos em bares, lanchonetes, em que muitas das vezes não são ouvidos ou respeitados. O pior para ela é saber que ainda ama aquela jovem e a dor da traição ainda a consome.

É com essa história pra lá de diferente que o longa nos conquista. As canções são também outro show a parte. Ótimas letras, melodias mais do que gostosas, algumas são realmente muito belas, outras engraçadas e divertidas como a que conta a historia da cirurgia fracassada da cantora, enfim todas as letras da músicas são autobiográficas. Dificilmente num musical, todo o repertório musical tenha me conquistado, mas com esse filme isso aconteceu, A origem do amor é a melhor. Outro ponto bacana são as ilustrações em meio as músicas, foram bem bacanas, poéticas e bem trabalhados.


No elenco está John Camreon Mitchell, é dele também a direção e roteiro do filme e Stephen Tras ficou a cargos das letras das músicas. E esse diretor obteve uma raridade, conseguiu uma atuação magistral no papel dessa transexual, uma direção impecável e segura fazendo um filme terno e muito bem construído e um roteiro ótimo. Alias, esse filme é uma adaptação de um show da Broadway criado por ele. Com o sucesso e o apoio de algumas produtoras, ele desenvolveu essa história para o cinema, tendo como base as canções já criadas e apresentadas durante os shows. O figuro do filme com suas cores vibrantes, aquela peruca loira e suas expressões faciais durante as músicas são ótimas. Momento ternos: vários, mas o final mostrando ela andando num beco escuro nu é a melhor.

Ousadia, esse é o termo que melhor pode exemplificar esse filme, mas não é algo que soe forte ou cafona. Há todo um cuidado em compor esse personagem e mostrar seus sentimentos e isso se dá de forma muito bela e comovente. Um longa que me impressionou, tanto pela direção, quanto pela entrega do seu ator, em todos os sentidos. É de Mitchell também a direção do filme bem comentado, Shortbus e do intenso Reencontrando a felicidade, com Nicole Kidman no elenco.

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