quinta-feira, 5 de maio de 2011

Dançando no escuro

Forte e Intenso, um belo filme

Dançando no escuro, longa do diretor Lars Vons Traier, segue uma linha que mais tarde também seria trabalhada em Dogville, outra grande obra do diretor que no caso é levar seus personagens principais ao extremo da dor. O filme começa com um jogo de cores ao som de uma música instrumental que à medida que você vai observando essas tonalidades se movendo, seus sentidos se confundem: medo, prazer, tensão, raiva, enfim vários sentimentos vão se misturando com ainda as cores em movimento e você agora não conseguindo mais codificá-las. Por meio dessa introdução já tem uma impressão de como o filme será.

Selma (Björk), uma jovem mãe, vem para os Estados Unidos com o sonho e objetivo de conseguir juntar dinheiro para uma operação delicada e cara para o filho. Ele, assim como a ela, sofre de uma rara doença genética que vai aos poucos tirando a visão da pessoa. Para que ele não passe pelos mesmos problemas pelo qual ela está passando, que no caso, a cegueira total, Selma resolve trabalhar constantemente em intensas jornadas de trabalho. Ela mora num trailer alugado com o filho e vive grandes musicais nos seus sonhos. Bill (David Morse) e Linda (Cara Seymour), seus vizinhos, juntamente com Kathy (Catherine Deneuve), uma colega de fábrica, a ajudam no que é possível, mas quando Bill se vê em dificuldades financeiras, rouba o dinheiro que Selma tinha economizado duramente, este roubo é o ponto de partida para trágicos acontecimentos.


Selma, como em outras personagens do diretor, possui uma inocência que não lhe permite mentir, roubar ou trair, mesmo que seja por uma boa causa ao fim. Sendo assim, não há lugar para ela nesse mundo selvagem como é a América ou outra parte do mundo. Mas se a realidade é dolorosa, o mundo em seus sonhos em que todos cantam e dançam de forma acrobática e com belos passos compensa a dor de sua vida. Traier usa as cores para separar estes dois mundos. A realidade com cores frias, pálidas, sem vida e cores quentes, vivas, pigmentadas nos seus sonhos. O som ambiente é muito bem aproveitado nas canções, na verdade eles são as primeiras notas e base para as canções.

Outro ponto que chama a atenção no filme é que os números musicais acontecem apenas na imaginação de Selma, ou seja, diferentemente dos musicais em que uma pessoa começa a cantar e todas a seguem com passos incrivelmente demarcados, em Dançando no escuro tudo é da mesma forma, porém, apenas nos sonhos e assim que o número termina, a vida continua de onde parou com severas conseqüências. As letras das canções são bonitas, dando destaque para I’ve seen it all. Forte e intensa, com uma letra evocando os motivos de ver e não ver o mundo em que vivemos. Foi indicada ao Oscar de melhor canção. As atuações estão excelentes. Há uma Catherine Deneuve meio apagada, mas ainda muito bem no papel, mas destaque mesmo para Björk, cantora que conseguiu levar muito bem a atuação. Ela conseguiu exprimir de uma forma bela toda inocência, medo e angústia da personagem. Levou o prêmio de melhor atriz em Cannes. 

La Vons Traier deixa a sua marca no filme em todos os momentos. O longa que começa leve, a medida que a história vai correndo torna-se denso, forte, intensamente dramático e trágico. Um filme em que não há espaço para finais felizes. Dessa história só podemos esperar o pior. Uma forte denúncia do diretor aos Estados Unidos, mostrado no filme como uma terra de aproveitadores e injustos. Uma nação em que as pessoas revelam o pior de si. O filme foi indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro e consta na lista dos 100 melhores filmes da década pela Revista Times. 


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